[CINEMA] “Marguerite”, uma mulher entre a verdade e a loucura

[CINEMA] “Marguerite”, uma mulher entre a verdade e a loucura

O cinema francês ao longo de toda sua história nos presenteou com comédias que andam de mãos dadas com a tragédia. “Marguerite”, longa com roteiro e direção de Xavier Giannoli é um belo exemplo disso. Selecionado para o Festival Varilux de 2016, trouxe Catherine Frot interpretando maravilhosamente a protagonista.

Não contém spoilers

O filme

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Marguerite Dumont é uma aristocrata da década de 20 na França. Seu amor pela ópera a fez promover por vários anos apresentações em sua casa para um círculo de amigos. Porém nenhum deles, nem mesmo seu marido, foram capazes de dizer para ela que cantava muito mal. Um jovem jornalista consegue entrar em um desses pequenos concertos e publica no jornal uma crítica bastante interpretativa, mas que aos olhos de Marguerite é a prova de que seu canto deveria alcançar novos palcos e públicos. Só então a farsa sobre seu talento passa a preocupar a todos.

 

A história real

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O enredo do filme é uma livre interpretação da vida de Florence Foster Jenkins, que logo mais veremos sendo vivida por Meryl Streep nos cinemas. Ela foi uma aristocrata americana da década de 40. Desde criança queria ser cantora lírica, mas seu pai se recusou a pagar os estudos ao ver o fracasso das primeiras aulas. Florence então fugiu de casa e só foi aceita de volta ao prometer que não iria mais cantar. Com a morte do pai, ela tinha bastante dinheiro e carta branca para fazer o que quisesse. Foi então que voltou ao sonho de ser cantora e conseguiu lotar concertos de grandes figuras públicas, que iam só para rir da péssima interpretação de Florence. Ela ganhou o apelido de “diva do grito”.

Por trás das cortinas

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Marguerite” é mais que um filme pra divertir ou emocionar. A protagonista começa fazendo você rir, para logo em seguida se sentir muito mal por isso. A escolha dos anos 20 para contextualizar essa história é interessante porque é fácil imaginar a mulher tão subjugada no passado. Mas seria tão plausível quanto agora. Marguerite poderia viver em qualquer época. Infelizmente ela é uma mulher moldada por um sonho inalcançável de cantar ópera, por uma razão tão triste, que é ser realmente vista pelo marido que sente vergonha dela e a trai.

A ópera representa uma espécie de libertação encenada para Marguerite, uma forma de não enxergar a realidade de que não é amada. Todos os personagens secundários da trama permanecem em sua vida por oportunismo e dinheiro. Mesmo seu marido que parece um dia já ter amado Marguerite, se coloca numa posição que não pode divorciar-se porque fora o título nobre, não tem nenhum dinheiro.

Num primeiro momento nós não conhecemos Marguerite. O momento em que entendemos algo sobre ela é quando ela começa a cantar. O riso é quase inevitável e logo depois fica claro o quão solitária e triste é essa mulher, vivendo num castelo de cristal cheio de mentiras. Isso ajuda o filme a deixar muito claro sua crítica à sociedade baseada em relações de puro interesse. Mesmo que aparentemente exista amor e admiração genuína nas amizades de Marguerite ou até mesmo em sua relação com o mordomo Maldebos, cada um dos personagens é guiado por um interesse específico, senão o dinheiro, a glória, a ascensão social.

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Fora isso, a representação de Paris da década de 20 é estonteante, as atuações muito bem construídas e claro, a trilha sonora permeada de clássicos da ópera é maravilhosa. Para quem não gosta de música clássica continua sendo um deleite, já que é tão bem encaixado na trama.

Com humor e delicadeza, Xavier Giannoli nos dá um exemplo claro de como algumas relações humanas são tão pobres e de como a mulher é subjugada e humilhada mesmo estando numa posição de elite como Marguerite. E o grande questionamento acaba por ser o valor da verdade na vida dessa mulher tão triste por dentro e tão encantadora por fora. Vale a pena arriscar a comodidade em sua vida de conto de fadas ou viver intensamente a verdade, seja qual for o preço?

https://www.youtube.com/watch?v=fTYikeCrlPc

Escrito por:

39 Textos

Bagunceira e bagunçada, por dentro e por fora. Prefere ver séries em maratonas, menos Game of Thrones, porque detesta spoiler. Totalmente apaixonada por desenho e animação. Tem mania de citar filmes em conversas, conselhos, brigas ou onde couber uma referência. Prefere gastar dinheiro com quadrinhos do que com comida, sendo muito entusiasta do quadrinho nacional e graphic novels em geral. Formada em Jornalismo, mas queria mesmo trabalhar com roteiro e ilustração.
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