[SÉRIE] “Orange is the New Black” e o fim das mulheres queridas e inocentes

[SÉRIE] “Orange is the New Black” e o fim das mulheres queridas e inocentes

Orange is the New Black começou como uma série queridinha, era focada na comédia mas contava com uma boa história, utilizando o ambiente da prisão para mostrar situações inusitadas, a falta de recursos e a adaptação de Piper. Conforme a série avançou, o drama foi passando a ser cada vez mais utilizado, principalmente mostrando as histórias das demais detentas e tirando todo o foco da volta de Piper. No início ela pareceu mostrar bastante a história de mulheres “injustiçadas” ou vítimas do capitalismo, mostrando crimes pequenos e trabalhando o sentimento de pena em relação a várias personagens. Até que os roteiristas parecem ter se cansado de fazer todas as detentas parecerem inocentes e introduziram histórias como as de Chang e Rosa e personagens como a Vee. 

O TEXTO CONTÉM SPOILERS DAS TRÊS PRIMEIRAS TEMPORADAS

Já conhecemos aquele velho quadro das mulheres sensíveis, inseguras, indefesas e principalmente, pessoas boas. A antiga ideia de que mulheres não tem maldade em si e que são fáceis de serem controladas. Senti esse aspecto na primeira temporada de Orange is the New Black e nas primeiras backstories, que mostravam a maioria das detentas sendo presas injustamente ou por consequências de pressão social ou capitalismo. Agora assistindo a quarta temporada, o que mais me chamou a atenção foi como a violência da série aumentou.

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Depois de uma terceira temporada bem fraca e muito focada na Piper, a quarta veio pronta para compensar por tudo (parece que a Netflix aprendeu direitinho com os erros). Primeiro, na questão das personagens. Além da participação maior da Blanca Flores, que vem acontecendo desde a terceira temporada, na quarta ela ganhou cenas de backstory e acabou com aquela imagem de mulher estranha que não falava com ninguém. Os flashbacks da temporada ficaram com Maria, Blanca, Lolly e Suzanne, que também foram mais trabalhadas na temporada. Embora Lolly e Suzanne continuem na loucura delas, Maria se tornou uma personagem muito importante e completamente diferente da mulher insegura e desesperada que vimos no início.

orange-is-the-new-blackLogo no primeiro episódio da temporada, que começa como uma continuação direta da cena final da terceira, tem um diálogo entre dois guardas que veem as prisioneiras correndo, onde um pergunta “será que elas finalmente se rebelaram?” e o outro responde “você sabe que mulheres não se rebelam”. E toda a temporada pode ser construída em cima desse diálogo, pois o que mais tem são mulheres se rebelando. Além de tratar dos pontos soltos que a terceira deixou como o caso de Sophia e a mudança de postura de Piper, a quarta temporada também acrescenta uma disputa racial forte e assuntos mais “sérios” que os das anteriores, e lida com eles de forma bem menos cômica que as primeiras temporadas. Devido à essa disputa racial, as personagens latinas ganham mais espaço e até Dayanara consegue se desenvolver em uma personagem mais forte e principalmente com opinião própria, pela primeira vez ela não está dependendo de ninguém.

Depois da reação de Piper em relação a Flaca e Stella, ela começa a tomar uma postura de líder dentro da prisão na esperança de que as outras vão temer ela. Enquanto a terceira temporada mostrou isso brevemente e tratou do assunto de forma leve, a quarta se aprofunda e mostra a reação das demais personagens em relação à postura dela, o que nos remete um pouco ao início, onde Piper chegou na prisão totalmente despreparada achando que passaria um ano tranquilo lá.

A temporada também conta com Judy King, uma apresentadora famosa de um programa de culinária que, mesmo não tendo interagido muito com as demais personagens, teve sua trama própria que foi muito bem construída. Ela é uma pessoa bem direta e não está nada preocupada em agradar os outros (não confundam isso com grossa/mal-educada). Devido à sua posição privilegiada na sociedade, ela ganha uma posição também privilegiada na prisão, e utiliza isso para tirar proveito de todos que pode. Quando ela aparece, é possível esperar algo parecido com a entrada de Piper, mulheres em situações privilegiadas que nunca chegaram perto de um presídio antes, mas ao contrário de Piper, ela não teve dificuldades em se adaptar e se mostrou cheia de recursos. Além de ser a pessoa a finalmente falar que Healey não é um cara legal, porque é essa a imagem que ele vem passando na série enquanto toma atitudes manipuladoras.

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Além de Judy King, outras personagens se mostraram mais violentas do que as temporadas anteriores permitiram. Além disso, algumas personagens recorrentes revelam já terem assassinado pessoas e em um dos casos, um guarda comenta estar surpreso por ela ter ido para uma prisão de segurança mínima, e descobrimos que várias têm assassinato em sua sua ficha criminal. A temporada também tem uma mudança de comportamento dos guardas, que se mostram bem mais abusivos e o descaso cada vez maior da empresa que comprou o presídio em relação às detentas.

A principal diferença dessa temporada em relação às outras é que as personagens estão cada vez mais deixando de ser sensíveis, inseguras e injustiçadas e começaram a fazer jus à pena que receberam. O que antes acabava com alguma ameaça ou era contornado pelos guardas, agora termina em confronto direto, o que atinge Piper diretamente, pois embora tente tomar um posto de líder, ela não estava pronta para lidar com os problemas que essa atitude traria. Embora a série tenha perdido um pouco do teor cômico, evoluiu bastante em questão de personagens e achei a mudança de comportamento totalmente válida, porque por mais carismáticas que elas sejam, a história ainda se passa dentro de um presídio.

Escrito por:

25 Textos

Apaixonada por livros de capa dura, filmes com bastante drama, histórias em quadrinho, jogos de estratégia e essas coisitas mais. Sempre começa a escrever mais textos do que é capaz de terminar. Formada em desenvolvimento de sistemas, fã de Tolkien e criadora do Dragões Encaixotados.
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