Hot Girls Wanted: a exploração feminina no pornô amador

Hot Girls Wanted: a exploração feminina no pornô amador

Produzido pela atriz americana Rashida Jones e dirigido pela dupla Jill Bauer e Ronna Gradus, Hot Girls Wanted mostra a realidade da indústria pornográfica amadora nos Estados Unidos, explorando os motivos que levam meninas novas de classe média a trabalharem nesse ramo e as consequências que isso causa em suas vidas.

O filme, lançado ano passado pela Netflix, após ser exibido no festival de Cinema de Sundance, acompanha a trajetória de 4 meninas que decidem deixar suas cidades após se formarem do ensino médio e ir para Miami atrás de fama e dinheiro fácil.

Lá, elas passam a morar todas juntas na casa do homem que as “recrutou”, através de um anúncio no Craigslist, e logo começam a trabalhar em filmes e ganhar fama através das redes sociais.

Com um formato simples e didático, Hot Girls Wanted intercala cenas do dia-a-dia da vida das meninas com fatos sobre a indústria pornográfica, que revelam o quanto essa é problemática.

Logo no começo, por exemplo, aprendemos que a maior parte dos estúdios estão saindo da Califórnia, por causa de uma lei que obriga os atores a usarem preservativos durante as filmagens e que as cenas nas quais as atrizes recebem mais dinheiro são aquelas em que elas interpretam estupros e cenas de sexo “pesado”.

Práticas como “Facial Abuse”, que consistem nos homens forçarem os seus pênis nas gargantas das mulheres até elas vomitarem, fazendo-as comer o vômito depois, e enforcamentos, estão entre as mais comuns para as atrizes, e uma delas chega a descrever a sensação de participar das gravações como ser vítima de estupro.

Além disso, o documentário revela que a “vida útil” de uma atriz no pornô amador, considerado o maior ramo da indústria, é em média 3 meses. Depois disso, a atriz já é considerada velha e como já fez todo tipo de filme é geralmente substituída por uma mais nova e inocente, demonstrando assim, a exploração do corpo feminino que é usado de todas as formas possíveis sem nenhuma proteção ou apoio médico e depois descartado quando não há mais formas de capitalizar com a sua imagem.

HOT GIRLS WANTED, Riley Reynolds (center), 2015. ©NetflixScreen Shot 2015-05-29 at 11.47.11 AM

Hot Girls Wanted cumpre o seu objetivo de desromantizar a pornografia, mostrando-a como ela realmente é. Apesar de ser um documentário curto e simples, que não explora com profundidade todas as consequências na vida das atrizes – já que essas conseguem sair da indústria e voltar para as casas de suas famílias, o que seria muito diferente se elas pertencessem a classes sociais mais baixas – ele consegue fazer questionamentos importantes e atingir um público que consome a pornografia, mas nunca refletiu sobre os seus efeitos.

As meninas, que começam o filme animadas com grandes expectativas de fama e sucesso, vão aos poucos percebendo que a indústria pornô não é exatamente gentil com nós, mulheres, e que o dinheiro fácil e fama que ela propõem não vale a pena devido à violência e os riscos. Junto com elas, o espectador vai aos poucos descobrindo essa realidade e percebendo que o que ele julgava ser “só um filme” ou “só atuação”, na verdade, reproduz padrões misóginos e explora mulheres.

Eu assisti ao filme ano passado quando comecei a pesquisar mais sobre a indústria pornográfica, e apesar de já ter me aprofundado mais no assunto ainda recomendo ele principalmente para as pessoas que estão começando a problematizar essa indústria e querem saber mais sobre os efeitos que ela tem na vida das mulheres.

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“O senhor não imagina bem que eterna variação de gênio é aquela moça. Há dias em que se levanta meiga e alegre, outros em que toda ela é irritação e melancolia.” (Ressurreição, Machado de Assis). 20 anos, estudante de Engenharia e que prefere passar o dia vendo filmes do que com a maioria das pessoas.
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