[MANGÁ/ANIME] “Saintia Shô” e a discórdia de Éris em ação

[MANGÁ/ANIME] “Saintia Shô” e a discórdia de Éris em ação

O final de 2016 para os fãs de Cavaleiros do Zodíaco tem sido bastante agitado ultimamente. Fomos o primeiro país fora do Japão a receber as 12 armaduras de ouro juntas durante a CCXP, tivemos um representante da Toei Animation (a empresa de animação responsável pelo anime clássico e Ômega) dizendo sobre novidades da série.

Ainda em novembro, nos últimos dias, recebemos uma curta notícia que em dezembro a Champion Red, revista da Akita Shoten e atual casa da franquia nos impressos após quatro anos de Shonen Jump e Sueisha, iria divulgar uma grande novidade referente a saga “Saintia Shô”.

Se durante os últimos anos você andou afastado do universo cósmico de Cavaleiros, vamos atualizar você!

“Saintia Shô” é um spin-off onde o foco é em uma nova classe de guerreiras, ocorrendo de forma paralela ao clássico (mas atenção, ocorre paralelo ao mangá e não a animação e suas alterações confusas), onde Atena entra em guerra com a deusa maligna Éris, escrita por Chimaki Kuori desde 2013, ao substituir “Episódio G”, outro spin off da franquia. Chimaki é conhecida por ter trabalhado em “Gundam Seed”.

Mas por que tamanha necessidade de se falar da obra? O anúncio era nada mais nada menos que a adaptação em anime, e com isso vemos o quanto a maioria dos membros do fandom de Cavaleiros do Zodíaco parece ter parado nos tempos de exibição da extinta manchete… Ou na Guerra Santa anterior.

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Shoko (ao centro), Kyoko, a irmã de Sho (a esquerda), Mii (a direita) e Saori (ao fundo). Arte extra por Chimaki Kuori.

Quando a máscara cai

Como dito acima, Saintia Shô é focado em uma nova classe de guerreiras, as saintias. Consideradas lenda até mesmo entre cavaleiros e amazonas, elas são a guarda pessoal da deusa Atena, cuidando de afazeres de dama de companhia também. Como são um tipo de sacerdotisas, a elas é permitido manter sua feminilidade (diferente das amazonas que precisam abandonar a feminilidade e encarar o uso da máscara para se igualarem aos homens) e devem manter-se virginais como a deusa a quem servem.

A protagonista dessa história é Shoko, uma garota até que comum, que vive com o pai e treina artes marciais com o mesmo. Ela tem uma irmã mais velha, Kyoko, que foi estudar no exterior e nunca mais deu notícias. Um dia ela acorda de um sonho estranho, onde criança, fica presa entre galhos tenebrosos e de uma maçã dourada, uma serpente alada aparece parecendo feliz em achar um corpo para usar. É quando é salva por um homem dourado, que ela não sabe, mas é Milo de Escorpião.

Em sua escola, também “estuda” Saori Kido, a dona da Fundação Graad, que precisa oficialmente terminar seus estudos e cuja empresa foi a que ofereceu a bolsa de estudos a sua irmã, fazendo Shoko buscar pela garota, sem sucesso ao ser barrada por Mii, sua secretária. Sem opção, ela vai para o intervalo, quando misteriosamente os alunos caem em sono profundo e a jovem é atacada por uma falsa aluna, repetindo seu sonho misterioso e assustador. Mas dessa vez quem a salva é… Kyoko! Sua irmã se tornou uma saintia, Kyoko de Cavalo Menor (Equuleus).

E assim, Shoko entra nesse universo fantástico e mitológico, onde mais tarde após um triste fato (a ser lançado no Brasil), irá substituir sua irmã.

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Como ficou claro, a obra terá diversos destaques femininos: Shoko de Cavalo Menor, Mii de Golfinho, Xioling de Ursa Menor, Katya de Coroal Boreal e Elda de Cassiopéia, e até mesmo a própria Atena (mais que no clássico) e uma nova amazona, Mayura de Pavão. E isso parece ter irritado muitos fãs que ignoraram o mangá e se revoltaram por essa ser a animação citada de leve durante a CCXP.

Elevando a toxicidade do cosmo

Segundo levantamentos do site CavZodiaco feito esse ano, sabemos que a comunidade de fãs brasileiros é composta por quase 90% de fãs masculinos. E como reflexo da imensa comunidade nerd, não é de se espantar o quanto de machismo rola dentro do fandom de Cavaleiros. A própria obra base não é tão livre disso, apesar de ter tido algum esforço (reza a lenda) do próprio autor ao tentar colocar uma amazona entre a elite do Santuário, o qual foi vetado pela Jump nos idos anos 80. A obra clássica é reflexo da Jump e da sociedade japonesa de seu tempo, que não mudou tanto, mas já não é como hoje.

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Pesquisa realizada pelo site CavZodiaco.

O próprio autor quem deu as bases para Santia Shô. Em entrevista para o jornal Le Monde esse ano, durante a Japan Expo na França, Chimaki deu detalhes sobre a participação do autor em seu trabalho, como podemos ver abaixo com tradução de Alan Nicol da Taizen Saint Seiya:

“Ele propôs a ideia de uma nova casta, Saintia, que são meio que vestais da deusa Atena. Como elas se relacionam com ela, não há qualquer justificativa para que elas tenham de usar as máscaras do mundo dos homens. Elas podem, portanto, assumir sua feminilidade.”

Há tempos, Kurumada vinha tentando pegar a fatia de fãs femininas atuais, muito mais seguras de si, que nos tempos onde ele já vinha tentando emplacar uma guerreira poderosa em sua obra, tanto que Yuna em Ômega foi uma personagem pedida para que estivesse entre os protagonistas. Obra, essa, onde tivemos muitas representações femininas dignas e tão odiadas quanto Saintia Shô hoje está sendo, mas isso pode vir para uma pauta futura e com tranquilidade.

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Anúncio feito na revista . Foto por suwadoru.

A fanbase do anime se rachou novamente com a notícia. Muitos destes esperavam uma animação baseada em “Episódio G” (mangá completo que ganhou uma nova temporada em publicação virtual, Assassino) ou “Next Dimension” (continuação oficial do clássico com atualizações capengas e sem lá muita criatividade pois parece uma fase Santuário 2.0). Há também aqueles fãs que aproveitaram para destilar ódio, misoginia e homofobia, relembrando o “odiado” “Ômega”, de 2012. E, como sempre, os fãs apelidados por algumas páginas como “manchetossauros”, que se orgulham de terem visto a primeira exibição em 1994 na falecida Manchete e detestam qualquer novidade. É altamente recomendável sequer acompanhar o debate, onde teve casos até de ameaças a integridade física de uma fã da obra (o qual para poupar gatilhos, não será citada). Parece que mulher não pode ser forte e encabeçar obras shonens que ativam o medo de diversos homens, atacando sua frágil masculinidade e nostalgia.

Há aqueles que consideram a obra feminista, porém o mangá não levanta bandeira alguma, tendo algumas passagens que mostram sim que a obra não é a “coca-cola” toda que muitas militantes insistem em levantar. A própria autora na mesma entrevista deixa claro sua posição quanto a essas afirmações:

“É difícil dizer para mim, porque Saintia Shô não foi criado em resposta a uma demanda específica, mas porque queríamos renovar a série, e que, sendo esta muito masculina, as mulheres eram uma boa maneira de oferecer uma nova leitura. Não houve considerações relacionadas com um engajamento ao feminismo, eu não me considero uma autora engajada, eu não estou tentando colocar as questões políticas no que eu desenho. Foi realmente uma maneira de atualizar a série.”

A obra apenas é protagonizada por meninas fortes, humanas, mas meninas. E tem um arco todo praticamente dedicado aos cavaleiros de ouro (publicado durante a exibição de “Soul of Gold” durante 2015, e foi uma provável forma de ajudar na divulgação do streaming).

Mas se você, leitora, não se sente incomodada, é uma obra digna de leitura. Casa-se perfeitamente com o mangá clássico (que se não conhece, é bom que leia, ou poderá ficar perdido com as informações) e com sua continuação, “Next Dimension”. Aqui, os cavaleiros de ouro realmente mostram por que são a elite, e seus trejeitos são os mais fiéis de todas as adaptações e spin-offs existentes. O traço é primoroso, cercado pela linguagem das flores (criado durante a era vitoriana) e há fanservice para ambos os públicos e preferências. Chimaki Kuori está de parabéns ao conduzir sua obra com maestria.

O futuro

Até o momento, apenas há informação de que a Toei Animation estará responsável pelo projeto, e sua provável exibição será para 2017. Não há nada sobre a staff, dublagem ou datas. Por hora, podemos apenas contar com especulações e imaginação, como se irão chamar parte do atual elenco do clássico ou se usarão alguém que tenha participado do Drama CD, como por exemplo, Milo, que tem dois dubladores: Toshihiko Seki (que o assumiu em Hades, jogos e Soul of Gold) ou se chamarão Takahiro Sakurai (que dentro da franquia deu voz a Minos de Griffon em “Lost Canvas” e a Shiryu de Dragão em “Ômega”).

Atualmente, Saintia Shô é publicado bimestralmente no Brasil pela editora JBC.


 

Saintia Shô – Volume 1 

184 páginas

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Saintia Shô – Volume 2 

200 páginas

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