Francisco El Hombre: arte, atitude e ritmos latinos

Francisco El Hombre: arte, atitude e ritmos latinos

Eu não me vejo na palavra fêmea: alvo de caça, conformada, vítima” canta Juliana Strassacapa em Triste, Louca ou Má. A música, que faz parte do primeiro álbum da banda, chamado Soltasbruxa, faz uma reflexão sobre o papel da mulher em meio a uma cultura machista, que tende a defini-la através do seu relacionamento com homens.

A banda Francisco El Hombre foi formada em 2013 na cidade de Campinas pelos irmãos mexicanos Sebástian e Mateo Piracés-Ugarte, e hoje conta também com Juliana no vocal e percussão, Andrei Martinez Kzyreff na guitarra e Rafael Gomes no baixo.

O som deles, que pode ser caracterizado com uma mistura de ritmos latinos e uma “pegada brasileira”, traz batidas dançantes e letras originais, criando algo muito diferente da maioria das músicas que ouvimos hoje em dia. E, apesar de ter apenas um álbum e um EP, a banda já fez shows por todo o Brasil, além de parcerias com músicos como Liniker e Apanhador Só.

Na entrevista que realizamos com Juliana, ela conta um pouco mais sobre essa trajetória e sobre a relação entre arte e transformação social. Confira:  

DN – Como foi o começo da banda?

Juliana – A banda começou com dois irmãos mexicanos repletos do sentimento “Wanderlust” (desejo extremo de viajar), que depois de experimentar musicalmente com diversas pessoas, na cidade de Campinas/SP, acabou contaminando de fato, nós 3 (eu, Gomes e Andrei). O intuito era romper com a monotonia do dia a dia e, tendo a música como veículo, trocar com quantas pessoas e lugares pudéssemos. E cada vez mais, a estrada e a música nos são inerentes.

DN – Quais são as influências musicais de vocês? Como vocês descreveriam o som?

Juliana – Acho que nossas influências musicais são consequentes das vivências que temos pelos lugares por onde passamos, e pelo contato pessoal que estabelecemos com xs artistas que conhecemos pela estrada. Mas se for para resumir, carregamos fortes raízes latinoamericanas, brasileiras e africanas no nosso som. O mais próximo que chegamos de uma descrição aceitável foi “batuk-punk-tropicarlos”.

DN – As músicas de vocês, como “Bolso Nada” e “Triste, Louca ou Má” são conhecidas por passarem mensagens políticas e sociais, vocês acham que a música é uma boa arma política?

Juliana – Penso que as artes são os melhores meios para se causar um impacto transformador nas pessoas. É o que nos abduz do modus operandi sem pedir licença e causa mudanças possivelmente essenciais. A arte chega de maneira sensível e te bota pra pensar, repensar e reagir. A Nina Simone já disse “You can’t help it. An artist’s duty, as far as I’m concerned, is to reflect the times.” e não poderia concordar mais com essa gênia.

DN – O primeiro CD de vocês, “SOLTASBRUXA”, foi lançado agora em Setembro. Como tem sido a reação do público a ele?

Juliana – A reação do público tem sido absurda! O disco está sendo muito bem recebido e absorvido em vários pontos do Brasil e fora dele. Coisa de a gente tocar numa cidade por onde nunca passamos, e a galera estar cantando as músicas mais alto que nós! Lindo! E a reação à “triste, louca ou má”, para mim, é a pérola de 2016/17. Ver tantas manas se sentindo representadas, se emocionando, espalhando a mensagem e compartilhando comigo suas impressões é de um valor imensurável!

DN – Nesse primeiro CD vocês já colaboraram com bandas como “Liniker e os Caramelows” e “Apanhador Só”, com quais outras bandas ou cantores vocês gostariam de colaborar?

Juliana – Geralmente nossa vontade de colaborar com algumx artista, vem de maneira bem orgânica. Apreciamos as pessoas conjuntamente aos seus trabalhos. Sinto que o tempo se encarrega de dizer nossas futuras parcerias.

DN – Quais são os planos futuros da banda?

Juliana – Nossos planos futuros são lançar o documentário “Vai pra Cuba”, com mais algumas surpresas filmadas por lá. E seguir trabalhando esse disco fresquinho pelas estradas, novas e velhas.

DN – Que dica vocês dariam para quem está pensando em seguir carreira musical?

Juliana – Se você sente a música vibrar pelos seus poros, se pensa e transborda música todos os dias da sua vida, não há como fugir. Não se pode negar uma ligação dessas, que é vital ser explorada para se chegar um tiquinho mais perto da plenitude. Vai, mete as caras, bota o pé pra fora da porta, assuma riscos, trabalhe duro, aproveite as parcerias e seja a mudança que quer ver no mundo! Nunca se deixe esquecer do porquê você faz isso! Não é, nem de longe, fácil ser musicista/músico, mas para mim, viver sem isso seria como me recusar a respirar.

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25 Textos

Feminista. 20 anos. Libriana indecisa com ascendente em leão que sonha em viajar o mundo. Estudante de publicidade e propaganda, apaixonada por séries, livros, filmes e levemente viciada em ver fotos de animais fofinhos na internet.
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