[LIVROS] Leia Mulheres: Píppi Meialonga, de Astrid Lindgren

[LIVROS] Leia Mulheres: Píppi Meialonga, de Astrid Lindgren

Na nossa edição do Leia Mulheres (#leiamulheres) com a categoria “Livros que fazem parte de uma série”, apresentamos o primeiro livro da trilogia de Píppi Meialonga, da autora Astrid Lindgren.

Em um casarão enorme e acompanhada de um cavalo e do macaquinho sr. Nilson, vive Píppi Meialonga. Isso mesmo: sem pai ou mãe. A garota de cabelos ruivos e de alma colorida e entusiasmada é órfã e vê na ausência dos pais uma condição de autonomia que muitas crianças de sua idade invejariam: seus nove anos de vida, aparentemente poucos, possuem muitas histórias para contar. A menina cativante criada pela sueca Astrid Lindgren é uma daquelas personagens que permanecem no coração do leitor pela vida toda, se tiver a chance de ser conhecida.

Filha de uma moça muito bela, que faleceu quando Píppi ainda era um bebê, e de um capitão que sumiu após um naufrágio, a senhorita Meialonga é um show de carisma e imaginação. Ao saber do desaparecimento do pai, muda-se para a casa que herdou, cujo o nome é Vila Vilekula, e tem como fieis escudeiros o sr. Nilson e o cavalo que mora na varanda. Píppi costura as próprias roupas, arruma a casa, limpa chaminés, escala árvores, explora a vizinhança em busca de objetos peculiares e cozinha suas refeições, sendo suas especialidade biscoitos, panquecas e sanduíches.

Píppi Meialonga

Ao lado da Vila Vilekula mora uma família tradicional, cujos membros são o pai, a mãe e os filhos, Tom e Aninha, que já à primeira vista se encantam pelo jeitinho especial de Píppi. Os dois irmãos, criados sob muitas regras, enxergam na amizade de Píppi Meialonga uma fuga para a realidade formal à qual foram submetidos desde pequenos. A transição que fazem, do começo do livro até os capítulos finais, mostra que se há incentivo para que as crianças se expressem de formas variadas, com certeza se tornarão pessoas melhores e conseguirão mudar o próprio espaço em que vivem.

– Por que você está andando de costas?

– Por que eu estava andando de costas? – repetiu Píppi. – Por acaso nós não vivemos num país livre? Por acaso cada um não faz o que tem vontade de fazer? 

Píppi foge ao estereótipo de muitas personagens femininas infantis: no livro de Astrid Lindgren não há espaço para príncipes-salvando-princesas e garotas submissas. Trabalhando em conjunto com os dois novos amigos, a garota se empodera e empodera Aninha, que deixa muitas de suas ideias errôneas pré-concebidas de lado. 

A menina possui uma força extrema, tanto física quando de personalidade. Chega a enfrentar os policiais que querem levá-la para um lar de adoção e salva um garoto que estava encurralado pelos valentões do bairro onde mora. Muito esperta e com a resposta pronta na ponta de língua, Píppi se sai muito bem de todos os problemas que surgem ao seu redor. Toda a personalidade de Píppi pode ser facilmente comparada à de Emília, d’O Sítio do Picapau Amarelo. A garota encanta simplesmente por ser.

Os cinco rapazes que cercavam Píppi deram as mãos uns para os outros e começaram a pular e gritar:

– Cabeça de fogo! Cabeça de fogo!

Píppi, no meio deles, sorria amavelmente. Bengt tinha imaginado que ela ia ficar furiosa, que ia começar a chorar ou, pelo menos, ficar morrendo de medo. Quando nada disso aconteceu, ele deu um empurrão nela.

– Tenho a impressão de que vocês não sabem como tratar uma senhorita – disse Píppi. Em seguida, ergueu Bengt bem alto com seus braços fortes, carregou-o até uma árvore que havia ali perto e pendurou-o num galho. Feito isso, agarrou um dos outros garotos e pendurou-o em outro galho. Depois pegou mais um e largou em cima da viga do portão de uma casa. O garoto seguinte, jogou em cima de uma cerca e ele foi cair no meio de um canteiro de flores. Por fim, pôs o último dos garotos encrenqueiros dentro de uma carrocinha de brinquedo que estava no meio da rua. Depois Píppi, Tom, Aninha e Guilhe ficaram algum tempo olhando os garotos, e os garotos não conseguiam nem falar, de tanto medo. Píppi disse a eles:

– Vocês são uns covardes! Cinco garotos contra um, e ainda acham normal! Isso se chama covardia. E depois vão para cima de uma garotinha indefesa. Vocês são o fim!

Píppi Meialonga

Cada capítulo do primeiro livro da trilogia é independente e narra, em forma de pequenos contos, as aventuras de Píppi e seus novos amigos. Os demais títulos são Píppi a Bordo e Píppi nos Mares do Sul. As edições foram ilustradas por Michael Chesworth e publicadas pela Companhia das Letras. A obra foi adaptada diversas vezes para o cinema e televisão, sendo a série de TV, estrelada por Inger Nilsson, a mais famosa versão.

Astrid Lindgren

Astrid lindgren Píppi Meialonga

Astrid Lindgren nasceu 14 de novembro de 1907, em Vimmerby (Suécia), e faleceu no mesmo país em 28 de janeiro de 2002. Foi ganhadora do Prêmio Hans Christian Andersen, um dos maiores prêmios de literatura infanto-juvenil. Lutava pelo fim dos maus tratos aos animais, pelos direitos das crianças e repudiava punições físicas. Recebeu o Right Livelihood Award pela militância em prol das minorias e pela preservação do meio ambiente. 


Píppi Meialonga Píppi Meialonga

Companhia das Letras

Ano de publicação: 2003

156 páginas

Onde comprar: Amazon

Escrito por:

117 Textos

Formada em Letras, pós-graduada em Produção Editorial, tradutora, revisora textual e fã incondicional de Neil Gaiman – e, parafraseando o que o próprio autor escreveu em O Oceano no Fim do Caminho, “vive nos livros mais do que em qualquer outro lugar”.
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