[QUADRINHOS] Vincent Van Gogh: A linha tênue entre a arte e a saúde mental (Resenha)

[QUADRINHOS] Vincent Van Gogh: A linha tênue entre a arte e a saúde mental (Resenha)

Na nova coleção de Graphic Novels da Editora Nemo, temos a oportunidade de conhecer a história e a vida de um dos maiores pintores do período pós-impressionista, podemos nos adentrar na biografia de Vincent Van Gogh, além de conhecermos mais a fundo suas tão renomadas pinturas. Nessa edição, em formato de quadrinhos, vamos passando por fases ou períodos que Vincent percorreu em sua vida. Selecionamos alguns temas abordados na HQ que consideramos serem interessantes para discutir.

SINOPSE OFICIAL DE VINCENT VAN GOGH

A proposta da coleção MESTRES DA ARTE EM QUADRINHOS é apresentar a obra e a vida de artistas considerados de destaque no universo da História da Arte. Por meio dos quadrinhos, o público entrará em contato com os aspectos da vida e da obra determinantes para as criações de cada artista. Os artistas brasileiros que inovaram e que tiveram grande contribuição para a elaboração da cultura nacional também serão destacados nesta coleção. Os leitores de quadrinhos, os apaixonados pela História da Arte e as pessoas que tem algum tipo de interesse, mesmo que genérico, sobre o assunto encontrarão entretenimento e informação na medida certa. Neste segundo volume, apresentamos o genial pintor pós-impressionista Vincent Van Gogh.

Vincent Van Gogh

“Não tenho certeza de nada, mas a visão das estrelas me faz sonhar.”

(VAN GOGH, Vincent)

No ensino fundamental ou médio, ao estudarmos artes, é comum sermos apresentadas ao pintor Vincent Van Gogh com suas pinturas de paisagens, seus autorretratos, ou estudarmos um pouco sobre sua vida. Van Gogh é frequentemente lembrado como um artista “louco”, “incompreensível” ou então, depressivo. O que muitas vezes deixamos de lado ao ler sobre a biografia de sua vida, é compreender sua tristeza enquanto uma doença – e não como loucura.

A Infância de Vincent Van Gogh

A infância de Van Gogh foi marcada por alguns acontecimentos importantes, dentre eles sua configuração familiar e a religiosidade. Filho de pastor e residente de uma cidade no interior da Holanda, Zundert, Van Gogh veio ao mundo e passava seu tempo desenhando, pintando e lendo. Theodorus e Anna, pais de Vincent, são conhecidos por possuírem uma educação rígida com suas filhas e filhos, tal fato, fazia com que as crianças se rebelassem e sofressem repressões.

Devido ao seu comportamento considerado complicado, aos 11 anos de idade Van Gogh foi levado a um internato, porém, rapidamente largou a escola e retornou para casa. Seu pai logo percebeu as dificuldades financeiras que iam aumentando na família, principalmente devido ao número de filhas e filhos, então, Theodorus sugeriu que Vincent fosse trabalhar com Cent, um tio que era dono de uma galeria de arte.

Vincent Van Gogh

Theo e Vincent

Aos 16 anos Vincent havia se mudado de cidade para trabalhar, porém, seu contato com o irmão mais novo, Theo, nunca acabou. Com a separação dos irmãos e estando em um local desconhecido sem pessoas próximas, Vincent começou a se sentir sozinho. Após muito insistir, Theo foi visitá-lo e assim que Theo retorna para casa, os irmãos começam a trocar correspondências e cartas pelo resto da vida.

Van Gogh sempre foi conhecido por não conseguir se ajustar à sociedade, não possuir relações duradouras ou pessoas que o apoiassem. A única pessoa que sempre esteve presente em sua vida, apoiando e se desentendendo, foi Theo. Além de se corresponder e sempre socorrer o irmão quando este necessitava, Theo enviava dinheiro à Vincent, dessa forma sustentava o irmão e o acompanhava de perto.

Em suas cartas para o irmão, Vincent costumava falar sobre sua inadequação ao meio social, amores não correspondidos, vícios e principalmente, sobre suas constantes confusões mentais.

Após Vincent falecer, Theo tenta convencer a galeria de arte Durand-Ruel a realizar uma exposição em homenagem às obras de seu irmão, porém, a galeria se recusa fortemente. Com isso, Theo se encarrega de expor as pinturas de seu irmão improvisadamente no seu apartamento em Paris, junto com o artista Émile Bernard. No dia 20 de setembro de 1890, ocorria a primeira retrospectiva póstuma de Vincent Van Gogh.

Vincent Van Gogh

“O que eu sou aos olhos da maioria das pessoas? Uma não entidade, ou um homem excêntrico e desagradável – alguém que não tem e nunca terá posição na vida, em suma, o menor dos menores. Muito bem, mesmo que isso fosse verdade, devo querer que o meu trabalho mostre o que vai no coração de um homem excêntrico e desse joão-ninguém. ” (VAN GOGH, Vincent)

Religiosidade

Um dos fatos mais conhecidos na biografia de Van Gogh foi o seu quase fanatismo religioso. Por ser filho de pastor e sempre ter sido criado de acordo com o que a religião do pai considerava correto, Vincent interiorizou dogmas bíblicos e passava a se dedicar, de tempos em tempos, quase integralmente à leitura da bíblia.

Vincent se isolava constantemente para ler e meditar nas escrituras bíblicas, pois segundo ele próprio, somente a bíblia o trazia conforto. Sabemos que a religiosidade é uma parte presente na vida de milhares de pessoas, e que esta pode servir tanto de instrumento para a realização de ações boas, como para propagar preconceitos ou reduzir uma mente aberta até se fechar totalmente.

Leia Também:
[ENTREVISTA] Shamsia Hassani: A artista afegã que desafia o machismo através do grafite nas ruas de Kabul
[ENTREVISTA] Pri Ferrari: “É importante você conversar com seus filhos sobre gênero e homossexualidade”
[ENTREVISTA] Minna Miná: Arte, autenticidade e fantasia

Van Gogh possuía uma saúde mental extremamente fragilizada, sendo uma pessoa suscetível a abraçar o que achasse que o compreendia. Assim como diversas pessoas, Vincent encontrou o conforto que buscava em uma crença, porém, seus ideais bíblicos eram levados ao extremo, devido à sua condição de saúde mental.

“Quando sinto uma terrível necessidade de religião, saio à noite para pintar as estrelas. ”

(VAN GOGH, Vincent)

Vincent Van Gogh

Saúde mental

O debate sobre a saúde mental é um território que ainda ganha espaço nos debates atuais. A Organização Mundial da Saúde, OMS, define saúde mental como um “estado de bem-estar no qual o indivíduo é capaz de usar suas próprias habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com a sua comunidade. ” Podemos dizer, que a saúde mental é uma área de atenção essencial na vida de todas as pessoas, especialmente daquelas que possuem algum transtorno diagnosticado.

Van Gogh foi um dos artistas que sofreram com a sua condição debilitada mentalmente, tanto que chega a ser conhecido como o pintor que mutilou a sua própria orelha em meio ao sofrimento. Devido às suas constantes alterações de humor, sua não capacidade de se relacionar e possuir diversos episódios de confusões mentais, Vincent sofreu diversas internações psiquiátricas ao longo de sua vida. Seu sofrimento chegava a ser tão grande, que sua dor foi a causadora de seu suicídio.

Possuímos exemplos nas artes, literatura e cinematografia de como é importante debater sobre a relação entre suicídio e saúde mental. Nas rotinas agitadas de cada pessoa, nos encontramos com uma sobrecarga de trabalho e estudos, que por vezes colaboram para que deixemos nosso lado mental e emocional bem cuidado. Ao conhecermos a história de artistas como Van Gogh, podemos realizar o sentimento de empatia e nos solidarizarmos com o constate debate sobre a importância de falar sobre saúde mental e bem cuidar da mesma.

Vincent Van Gogh

“Voltei a refletir sobre a nossa conversa, e involuntariamente meditei nas palavras: “Somos hoje o que éramos ontem”. Isto não significa que se deva marcar passo, e não tentar desenvolver-se, ao contrário, há uma razão imperiosa para fazê-lo e para buscá-lo. Mas para permanecermos fiéis a estas palavras, não podemos recuar, e quando começamos a considerar as coisas com um olhar livre e confiante, não podemos voltar atrás e nem hesitar.” (VAN GOGH, Vincent)

Sobre a autora

Mirella Spinelli é mineira de São João del-Rei, cidade onde cresceu dividindo seu tempo entre as brincadeiras com as crianças da rua em que morava e a emocionante descoberta dos clássicos da literatura. Com o tempo, essa experiência se transformou em um grande interesse pelas artes plásticas e pela ilustração. Formou-se em Desenho pela Escola de Belas Artes da UFMG e deu continuidade à sua constante curiosidade por meio de muita leitura e da busca de todas as fontes de informação que surgissem. Fez pós-graduação em Arte Contemporânea na PUC Minas e em História da Cultura e da Arte na UFMG. Além de ser ilustradora e artista plástica, escreve livros de arte e foi professora de ensino superior de Desenho e de Teoria da Cor. Publicou em 2014, pela editora Nemo, o quadrinho Leonardo da Vinci, da série Mestres da Arte em Quadrinhos.


Vincent Van GoghVincent Van Gogh – Mestres da Arte Em Quadrinhos

Editora Nemo

48 páginas

Autora/Ilustradora: Mirella Spinelli

Onde comprar: Amazon

Esta obra foi cedida pela editora para resenha

Conheça as obras da Editora Nemo: Site Oficial –Facebook  Compre aqui livros da editora

 

 

Escrito por:

27 Textos

Feminista e estudante de serviço social. Ama Star Wars e é viciada em gatos. Adora conversar sobre gênero e brinca de ser gamer nas horas vagas. Nunca superou o fim de The Smiths.
Veja todos os textos
Follow Me :