[RPG] Pesadelos Terríveis: RPG brasileiro baseado na HQ de terror Beladona

[RPG] Pesadelos Terríveis: RPG brasileiro baseado na HQ de terror Beladona

Segundo alguns astrólogos da internet, no último dia 16 encerrou-se um período maldito relacionado com a lua, o mais pesado dos últimos dez anos, pelo que se pôde ler por aí. Nós aqui no Delirium Nerd não entendemos nada de astrologia, mas achamos que o último dia de um período tão assustador seria perfeito para testarmos o primeiro RPG lançado pela AVEC em parceria com a Lampião Game Studio, um cenário de terror baseado na premiada HQ Beladona, de Ana Recalde e Denis Melo.

O CENÁRIO

Cena da HQ Beladona, de Ana Recalde e Denis Melo.

Assim como na HQ que conta a história de Samantha e sua jornada de descobrimento, o objetivo de Pesadelos Terríveis é criar um conto onde os protagonistas, ou Sonhadores, utilizem de suas habilidades para enfrentar os antagonistas, os Pesadelos.

No cenário criado por Jorge Valpaços (Déloyal) existem dois mundos paralelos: O primeiro deles é mundo real, que é o nosso mundo comum: com filas no caixa do supermercado, ônibus lotado e conexão de internet lenta (um pesadelo por si só).

O segundo é o mundo dos pesadelos, um lugar criado e alimentado a partir dos medos e traumas da humanidade ao longo de sua existência. Os dois mundos, embora separados, possuem uma forte conexão que se manifesta mutuamente em ambos os planos. Por exemplo, se pegarmos a quebra da bolsa de Nova York em 1929 como o fio condutor de um conto de Pesadelos Terríveis, podemos imaginar que o medo da miséria e a falta de esperança geraram efeitos físicos que se manifestam na forma de incêndios em abrigos para sem teto.

Ou então um terremoto que causa problemas em uma usina nuclear durante a Guerra Fria, quando todo mundo estava traumatizado com os efeitos da radiação, também poderia ser o efeito do mundo dos pesadelos agindo no nosso mundo real.

Para a maior parte das pessoas comuns isso seria visto como uma coincidência, mas para os Sonhadores, aqueles que possuem a habilidade de se conectar com o mundo dos pesadelos, não seria difícil de identificar o Pesadelo por trás dessas situações.

Imagens de Pesadelos Terríveis:

O interessante do cenário apresentado em Pesadelos Terríveis é que é totalmente possível de se adaptar o jogo para qualquer época da história humana sem precisarmos de complementos para isso. O mundo dos pesadelos muda de acordo com a época e os personagens retratados, o mundo dos pesadelos dos europeus de 1500 seria totalmente diferente dos indígenas americanos do mesmo período. Portanto,  cabe ao narrador do conto se preocupar em trazer essas diferenças para a narrativa de forma a tornar seu jogo mais completo e imersivo.

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REGRAS

A Mecânica de jogo de Pesadelos Terríveis possui poucas regras se comparada com a de outros cenários de terror, mas isso não quer dizer que seja simples e pode levar algumas sessões de jogo para dominá-la completamente. Apesar de precisarmos de poucas rolagens de dados para definir o destino dos personagens, muito do jogo vai depender do bom senso e da habilidade do narrador e dos jogadores de manter a trama em movimento.

Pesadelos Terríveis não é um jogo “hack and slash“, não se trata de matar monstros e ganhar XP, é uma experiência narrativa onde se constrói uma história coletivamente; é muito mais sobre o desenvolvimento dos personagens e do confronto com seus medos e traumas. Como as ações são baseadas nos Traços e Traumas dos personagens, o background do Sonhador deve ser o mais detalhado possível para evitar a necessidade de qualquer método aleatório de se resolver um desafio, por isso o preenchimento das fichas dos personagens demanda máxima atenção para que possíveis lacunas não venham a atrapalhar o andamento do jogo posteriormente.

Por exemplo, se o seu personagem possui como um de seus traços ser muito comunicativo, esse traço preencheria a necessidade de habilidades como carisma e lábia em uma ação que envolvesse manter uma conversa para descobrir uma pista, a rolagem de dados pode ser desprezada nesse momento e o resultado julgado pelo narrador de acordo com a interpretação do jogador. Já o uso de poderes pode demandar a rolagem de dados (o jogo utiliza o dado de 6 faces).

Para se preparar para o jogo, os participantes devem preencher duas fichas, uma que retrata quem o seu jogador é no mundo real e outra que o descreve como Sonhador. Os medos primordiais (Fome, abandono, morte, etc) concedem poderes aos Pesadelos, enquanto os traumas escolhidos pelos jogadores vão definir os poderes de seus Sonhadores.

Por exemplo, pode ser que o trauma resultante de um acidente de avião  no mundo real conceda ao Sonhador o poder de voar enquanto estiver no mundo dos pesadelos, ou então o trauma da humilhação de falar em público, pode gerar o poder de ficar invisível  ao Sonhador. Cada jogador começa o jogo com 1 trauma psicológico e 1 poder, mas como o mundo dos Pesadelos está em constante mudança, novos traumas e poderes podem ser adquiridos conforme a narrativa avança, lembrando que tudo tem um preço e novos traumas não são a melhor coisa para se agregar, mesmo que resultem em novos poderes.

Da mesma forma, os Pesadelos se tornam mais fortes com a energia de novos medos primordiais e isso deve ser registrado pelo narrador na ficha dos antagonistas. Na ficha destinada ao Sonhador, ainda é necessário preencher o campo da Persona, que seria uma espécie de avatar do personagem dentro do mundo dos pesadelos.


Entre os documentos anexos do cenário, encontramos ainda uma ficha para o Conto. Nessa ficha, o narrador deve preencher alguns campos como: Trama, onde explica brevemente a situação a ser narrada e Cenas, onde ele divide essa trama em partes menores, cada uma concentrando uma ação dos personagens.

Aqui somos apresentados ao conceito de “Risco Total” de um conto, um valor atribuído à sessão de jogo antes que ela comece. Esse “Risco Total” representa o valor dos obstáculos que os jogadores precisam enfrentar até o final da partida, sendo o número total dividido entre as cenas e variando de 1 (pouco risco) até 5 (muito risco).

Isso dá aos jogadores e narrador uma boa ideia de quanto tempo a sessão vai durar. Pesadelos são narrativas únicas, cada vez que sonhamos vivemos situações que dificilmente se repetirão, ou terão continuidade, por isso os Contos em Pesadelos Terríveis são feitos para ter um desfecho, mas isso não significa que você não possa gerar uma trama maior composta por pequenos contos stand alone e essa é mais uma vantagem do cenário que vale tanto para quem tem um grupo fixo de jogadores que se encontram todas as semanas até para aqueles jogadores que só encontram os amigos para jogar uma vez por ano.

Mas a regra mais importante desse e de qualquer cenário de RPG é: Respeite os seus limites e os limites dos outros jogadores. O jogo deve ser divertido para todos e no momento em que a sessão acaba é necessário saber separar ficção da realidade, principalmente em cenários de terror. 

PARA INSPIRAR

Ficaram interessadas no cenário? Então aqui vai uma pequena lista de filmes que podem inspirar os leitores (Além da HQ Beladona) a jogar sua primeira aventura em Pesadelos Terríveis, mesmo que a fase maldita da lua já tenha acabado, outros períodos obscuros com certeza nos aguardam, por isso tratem de ficar despertos. Não que isso vá fazer qualquer diferença para os Pesadelos, claro.

  1. Cidade dos Sonhos (David Lynch, 2001)
  2. Paprika (Satoshi Kon, 2006)
  3. A hora do Pesadelo (Wes Craven, 1984)
  4. Labirinto – A magia do tempo (Jim Henson, 1986)
  5. A Origem (Christopher Nolan, 2010)
  6. Linha Mortal (Joel Schumacher, 1990)
  7. Sucker Punch – Mundo Surreal (Zack Snyder, 2011)
  8. Waking Life – Acordar para a vida (Richard Linklater, 2001)
  9. O Operário (Brad Anderson, 2004)
  10. A Viagem de Chihiro (Hayao Myazaki, 2001)

 Pesadelos Terríveis

Pesadelos Terríveis

Jorge Valpaços

144 páginas

AVEC Editora

Onde comprar: Amazon

Esta obra foi cedida pela editora para resenha.

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Escrito por:

46 Textos

Formada em Comunicação Social, mãe de um rebelde de cabelos cor de fogo e cinco gatos. Apaixonou-se por arte sequencial ainda na infância quando colocou as mãos em uma revista do Batman nos anos 90. Gosta de filmes, mas prefere os seriados. Caso encontrasse uma máquina do tempo, voltaria ao passado e ganharia a vida escrevendo histórias de terror para revistas Pulp. Holden Caulfield é o melhor dos seus amigos imaginários.
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