[MÚSICA] Lugar de mulher é no rock, bebê!

[MÚSICA] Lugar de mulher é no rock, bebê!

Se você pensa que rock é coisa de homem, volte três casas no jogo da vida, pois as mulheres estão tomando conta do espaço que lhes é de direito! Elas começaram desde o blues, gênero que deu origem ao rock and roll, com a Memphis Minnie, que além de cantora, foi uma das primeiras grandes instrumentistas de blues. E, perto do nascimento do rock, o gênero rockabilly contava com Wanda Jackson. Apesar de já atuarem na música desde o começo, a primeira banda formada somente por mulheres só foi aparecer em 1975, com a The Runaways, tendo Joan Jett como frontwoman.

Além delas, uma das vozes mais famosas do blues e soul é de uma mulher: Janis Joplin, que era conhecida como Elvis Feminina, morta aos 27 anos devido a uma overdose de heroína. Havia, também, nos anos 1960, uma banda de garage rock formada só por meninas: a Pleasure Seekers, das irmãs Quatro. Quando Suzi e Patti Quatro tinham apenas 15 e 17 anos, respectivamente, elas já tinham gravado seu primeiro disco. Após algum tempo, a banda se separou e as integrantes seguiram novos rumos.

Na Holanda também tinha “mina” fazendo rock! Ainda na década de 1960, foi formado o grupo Jenny and the Rascals, na cidade de The Hague, com liderança de Jenny Streur e que até hoje possui uma legião de fãs.

As Mercenárias. Imagem: Reprodução

Já em terras tupiniquins, a primeira banda de mulheres era chamada Mercenárias e nasceu em 1980, na cidade de São Paulo, inspirada no punk rock inglês. Por aqui, elas não tiveram o devido reconhecimento e só lançaram dois CDs, mas, no EUA, ainda lançaram uma coletânea, mostrando que por lá a coisa era diferente – sua qualidade musical era reconhecida. A banda se desfez em 1988, mas em 2008 as antigas integrantes se reuniram e voltaram a fazer turnê com a banda pelo Brasil. As Mercenárias são até hoje fonte de inspiração para meninas e mulheres que estão formando suas bandas de punk.

Mulher na luta atualmente

Procurando sobre bandas brasileiras somente com mulheres ou que tivessem alguma integrante feminina, o resultado gerou algumas entrevistas. Um exemplo de mulher que luta contra a hegemonia masculina na música é a catarinense Ruca Souza, ex-integrante da banda Café Brasilis.

Ruca é autodidata, tendo estudado música sozinha desde os 12 anos. Atualmente, ela tem um projeto solo autointitulado. Ela me contou que já se sentiu muito hostilizada no meio em que trabalha, que era esnobada por alguns homens, mas, em contraponto, diz que “sempre rolou muito respeito por mim nos shows. Eles faziam coisas por mim que não faziam por outros caras, como emprestar equipamento.”

Ruca conta que se inspira em mulheres como Alisson VV (“Dead Weather” e “The Kills”) e em mulheres brasileiras, como Pitty e Rita Lee e diz que para provar sua qualidade musical, teve que mostrar muito mais a que tinha vindo. “Vejo caras que trilharam o mesmo caminho que eu, que são meus colegas, e as coisas parecem ter sido mais fáceis pra eles”, diz a musicista que lançou o disco “Marte”, em 2014, que ganhou versão em vinil no ano de 2016. Ela fala que os músicos não dão folga: “Os caras sempre querem me passar um papo, então já ganhei muitos CDs também”, dando a entender que os homens já a paqueraram muito nesse período. Ela recomenda às mulheres que deem “mais a cara a bater, pois sinto falta de poder conviver com outras guitarristas” e que sempre tenta incentivar as suas fãs a aprenderem a tocar o instrumento.

Nos anos 90, o movimento Riot Grrrl surgiu em reação ao machismo da cena punk rock. Iniciado por bandas como Bikini Kill e que tem como referência cantoras como Patti Smith, a onda feminista na música punk surgiu como resposta a hegemonia masculina a falta de autoestima feminina na música, primeiramente com um zine criado por integrantes da Bikini Kill, que contestavam mitos machistas que subestimavam a capacidade das roqueiras, desestimulando as meninas que queriam tocar e, posteriormente com festivais das bandas feministas.

Fanzines feministas (reprodução)

As riot grrrls foram responsáveis por resgatar a autoestima das meninas, incentivando-as a criarem suas bandas e a produzirem seus fanzines feministas. Elas só queriam fazer o que tinham vontade, então abdicavam da maior preocupação estética como ato político, porém, algumas bandas se apresentavam maquiadas e arrumadas segundo o estereótipo feminino, sem perder a pose punk.

Remando contra a maré em Pelotas

Inspiradas nesse movimento, surgiu, em 2001, a She Hoos Go, banda gaúcha da cidade de Pelotas que tem espírito riot grrrl em suas integrantes. Simone, a baterista, que está no meio musical há mais de 20 anos diz que “naquela época não tinha tanto apoio como temos atualmente”. Ela disse também que o mais marcante em sua carreira foi poder sair do Rio Grande do Sul e tocar em um festival de bandas femininas no Rio de Janeiro: “foi emocionante e recompensador”, confessa.

Ao ser questionada sobre se já duvidaram de sua capacidade, Simone diz que sentiu isso na pele por nunca ter estudado seu instrumento: “me considero uma curiosa da bateria, mas toco com a alma, toco sentindo a música.” Ela diz que o cenário para as mulheres na música tem crescido muito e se diz uma entusiasta do assunto: “sou uma eterna incentivadora para que as gurias comecem desde cedo a encarar um instrumento, aprender a tocá-lo e montar uma banda.” Simone dá o exemplo do Girls Rock Camp, acampamento de férias só para meninas de 7 a 17 anos, onde elas aprendem e a tocar instrumentos, formam bandas e compõe músicas. O acampamento tem como missão empoderar e promover a autoestima das meninas. Simone é otimista e afirma que o cenário musical para as mulheres está cada vez melhor.

Trilhando o caminho da música eletrônica e um tanto experimental, Camila Cuqui e a banda Musa Híbrida, da qual é vocalista, conta que ainda vê problemas no tratamento com a mulher não só na música, mas em toda parte, “desde violência concreta até alguns tipos de abordagens que se fantasiam de gentis.”. Camila é a única mulher da banda e se diz apadrinhada por Vini Albernaz e Alércio, integrantes da banda: “entre nós existe uma liberdade muito diferente, nós três transitamos entre coisas que são consideradas ‘de homem’ ou ‘de mulher’, deixando tudo mais leve e híbrido mesmo.”.

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Camila conta que após ter composto a música Adriana, grito contra o machismo e o assédio de rua, “um homem disse pros guris que eu deveria mudar essa palavra (machismo), que ficar subjetivo era muito mais interessante. Daí, enviei a música pra várias mulheres e só confirmei o que achava antes: homem nenhum podia dar pitaco nessa música.” Camila diz que “a gente [mulheres] tá dominando aos poucos. Cada mulher que tá questionando, que tá botando o corpo no mundo, é mais esperança pra outras que ainda reproduzem ou sofrem violências.

Cuqui também tem um EP lançado por ela, “Lésbicas Inventaram a Palheta”, que pode ser ouvido no Youtube.

Na internet, atualmente temos a possibilidade de acompanhar diversas artistas trilhando sua carreira de maneira independente, além do surgimento de diversos selos musicais e outras iniciativas como o Sonora – Festival Internacional de Compositoras (que já falamos sobre aqui). Essas ações estão mostrando para o mundo que as mulheres têm seu espaço no meio musical e que vão lutar para aumentá-lo!

Imagem destacada: Ruca Souza. Foto de Brianne Lee. (Reprodução)

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Gaúcha moradora do Recife. Estudante de jornalismo com um pé (ou quase o corpo todo) nas artes. Acha que falar sobre si mesma na terceira pessoa é muito estranho.
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