[X JANELA] Balanço do Dia: 2º programa da mostra competitiva de curtas brasileiros e exibição do longa “Açúcar”

[X JANELA] Balanço do Dia: 2º programa da mostra competitiva de curtas brasileiros e exibição do longa “Açúcar”

O terceiro dia de X Janela Internacional de Cinema do Recife teve como principal assunto questões como o racismo e a busca pelo redescobrimento de ancestralidades negras. No Balanço do Dia do Delirium Nerd falaremos dos curtas Travessia, de Safira Moreira, Deus, de Vinicius Silva, e do longa-metragem Açúcar, de Renata Pinheiro e Sergio Oliveira.

O segundo programa da mostra de curtas nacionais em competição foi intitulada “Tomar os Tronos” e teve como principais exibições os premiados curtas Travessia e Deus.

Travessia, da baiana Safira Moreira, utiliza-se de uma foto que ela conta, depois da exibição, ter achado em uma feira de antiguidades. Na foto, uma mulher negra segura uma criança branca. No verso da foto os dizeres “Tarcisinho e sua babá”. A partir dessa fotografia e do poema Vozes-mulheres, de Conceição Evaristo, inicia-se uma busca pelo registro de famílias negras, que em sua grande maioria (para não dizer totalidade) não têm recordações fotográficas de seus componentes.

Safira diz que sua família não foi diferente: “não há registros da minha família, esse curta foi um processo de cura pra mim.” Ela também nos fala que as memórias tidas pelo povo negro são, em sua maioria, orais e portanto também é importante a leitura de autoras negras. “Quando eu leio uma autora negra, parece que é uma avó que me diz algo”, ela finaliza. Travessia foi premiado no festival CachoeiraDOC, no primeiro semestre de 2017.

Cena de “Travessia”

Deus, do paulista Vinicius Silva, nos mostra de forma simples mas muito efetiva e tocante, a vida de mãe negra periférica, no caso a tia do diretor, Roseli, em momentos amargos, sem deixar de lado as alegrias, como o almoço de domingo entre familiares e o aniversário do filho Breno.

O curta foi realizado como Trabalho de Conclusão do curso de Cinema e Audiovisual de Vinicius, Débora Mitiê (fotografia) e Huli Balász (montagem), da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). A sessão de estreia do filme no Cine UFPel causou a lotação do espaço e uma troca de experiências emocionante entre a comunidade de Pelotas, a cidade mais negra do Rio Grande do Sul.

Cena de “Deus”

O título do filme é justificado pelo fato de que a imagem da matriarca de famílias negras é a de deusa. Soma-se a isso a trilha sonora cedida por Emicida, com a música Deus (“Desafia, vai dar mó treta quando disser que vi Deus e ele era uma mulher preta”).

O curta tem sido exibido e premiado em festivais nacionais e internacionais, e após o dia 15, segundo a distribuidora Taturana Mobilização Social, começará sua caminhada por cineclubes, escolas e demais interessados em fazer uma sessão gratuita do curta. Para ver a agenda de exibições ou marcar uma sessão, acesse o site.

Também aconteceu uma sessão de exibição especial do longa-metragem Açúcar, dos pernambucanos Renata Pinheiro e Sergio Oliveira. Contando a história de Bethânia Wanderley (Maeve Jinkings), que ao se mudar para o Engenho decadente de sua família se depara com descendentes de pessoas que antes eram escravizadas pelos Wanderley, dando um sentido de resistência a uma parte daquela terra com a criação de um centro cultural.

X Janela
Cena de “Açúcar”

Os diretores, após a sessão do filme, nos disseram que a Zona da Mata, região pernambucana que serviu de locação para as gravações, é palco de muito conflitos entre opressores e oprimidos, e que procuraram, por isso “retratar essa elite que procura manter o status quo, personificada pela Maria Bethânia, agarrada aos seus privilégios”.

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Dandara de Morais vive uma das trabalhadoras da antiga casa grande e é uma figura que cerca Bethânia, além de Zé (vivido por Zé Maria), descendente de escravos que pretende comprar a casa-grande e transformá-la em local turístico para contar a história de sofrimento de seus antepassados. Em dado momento, eles recebem a visita da madrinha de Bethânia, Branca (Margarida Biff), que se mostra falsamente cordial com os trabalhadores.

No debate após o filme, os atores falaram sobre a experiência de incorporar personagens tão significativos para cada um. Maeve declarou: “muitos trabalhos eu sinto que me constroem e esse fez parte de um processo de autodescoberta”.

>> Confira aqui nossa cobertura completa do X Janela!

Imagem destacada: cena do filme Açúcar.

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Gaúcha moradora do Recife. Estudante de jornalismo com um pé (ou quase o corpo todo) nas artes. Acha que falar sobre si mesma na terceira pessoa é muito estranho.
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