[CINEMA] X Janela exibe filmes de Helena Ignez e Gabriela Amaral com participação das diretoras

[CINEMA] X Janela exibe filmes de Helena Ignez e Gabriela Amaral com participação das diretoras

A Moça do Calendário, da diretora Helena Ignez, teve exibição especial no X Janela Internacional de Cinema do Recife, assim como Animal Cordial, de Gabriela Amaral de Almeida. Ambas as diretoras estiveram presentes nas sessões e participaram de um debate após os filmes.

Baseado em um roteiro inédito de Rogério Sganzerla, seu já falecido parceiro de vida e de trabalho, Helena Ignez nos traz A Moça do Calendário, seu mais novo longa-metragem. No filme, acompanhamos Inácio (André Guerreiro Lopes), um ex-gari que divide seus dias entre ser dublê de dançarino e mecânico em uma oficina.

Helena Ignez
A moça do calendário é interpretada por Djin Sganzerla, filha de Helena e de Rogério.

Inácio vive a ser humilhado pelo patrão e as cenas na oficina nos são apresentadas em preto e branco, com exceção de um calendário no qual uma moça posa sensualmente em cima de um jipe, personagem que se torna um refúgio para Inácio. Inácio busca saber quem é essa mulher com a qual ele sonha. A imagem é como um oásis em meio à exploração capitalista sofrida pelo mecânico. Na oficina, o tempo passa em outra velocidade e os trabalhadores conversam sobre concepções de tempo e filosofam entre peças e ferramentas engraxadas.

Helena Ignez faz a narração do filme falando sobre a sociedade do cansaço, ideias que ela teve com base no trabalho do filósofo coreano, estabelecido em Munique, Byung-Chul Han. O filme é dedicado a ele e a Rogério.

Ignez, do alto dos seus 75 anos, tem bastante ousadia em sua realização audiovisual. Ela se refere ao filme como uma tapeçaria que vai sendo tecida aos poucos, com uma montagem que não segue uma linearidade cronológica, mas que não deixa o espectador perdido. Ela diz também que esse filme se trata de um sonho que, por enquanto, é uma luta.

A diretora se mostra otimista e esperançosa. No debate após a exibição, Helena falou sobre o processo de montagem do filme, sobre a equipe que trabalhou no longa e sobre ser mulher fazendo cinema. Ela conta que, inclusive, precisou se afastar por um tempo da área: “precisei respirar e parei de fazer cinema por uns 10 anos”.

https://www.youtube.com/watch?v=M_tsGbvXgrY

A noite foi de filmes feitos por mulheres. O longa que seguiu, da baiana Gabriela Amaral, traz o cinema de gênero mais uma vez para as telonas do X Janela. Animal Cordial é o primeiro filme e longa-metragem de Gabriela e já foi exibido no Fantasia Film Festival, no Canadá, e no Festival do Rio. 

O filme se passa no restaurante La Barca, de Inácio (vivido por Murilo Benício), local que sofre uma tentativa de assalto durante o final do expediente. O dono do restaurante reage e essa ação dá início a uma madrugada sangrenta. Inácio, que tem embates frequentes com os funcionários do restaurante, principalmente com o chef de cozinha (Irandhir Santos), se mostra uma pessoa sanguinolenta e muito fria. Sara (Luciana Paes) nutre certa paixão pelo chefe e esse sentimento vai sendo construído ao longo da trama até chegar no ponto limite.

Cena: Animal Cordial. Fotografia por Josué Souza.

A diretora faz um paralelo entre sexo e violência, abordando a sexualidade de diversas formas, a começar pelo lugar onde o filme é gravado: o restaurante. Em conversa posterior à sessão, Gabriela fala que existe uma sensualidade no ato de se alimentar. Além disso, ela é questionada sobre a representação de gêneros no filme: o chef Djair transita entre feminino e masculino, Sara aos poucos subverte a lógica de mulher submissa e Inácio se mostra bastante inseguro quanto à sua aparência.

A diretora comenta que o gênero do filme surgiu após a construção dos personagens. Ela diz também que o slasher é geralmente um gênero bastante misógino: “sempre nos mostram uma sequência de mulheres sendo mortas e no Animal Cordial isso não acontece”.

Um dos pontos que nos chama a atenção durante a trama é a defesa que Inácio faz de que bandido tem que morrer. O dono do restaurante que quer torturar pessoas defende a morte de criminosos. Seria engraçado se não fosse trágico.

O filme de Gabriela Amaral se mostra um retrato do país em que vivemos, com personagens bastante brasileiros e situações em que a hipocrisia nos é escancarada na tela. Animal Cordial chega até os espectadores em um momento que a realidade do cinema gênero no Brasil está sendo mudada aos poucos, com representantes como As Boas Maneiras, de Juliana Rojas e Marco Dutra, que já escrevemos sobre aqui no site.

>> Confira aqui nossa cobertura completa do X Janela!

Imagem destacada: cena de Animal Cordial.

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Gaúcha moradora do Recife. Estudante de jornalismo com um pé (ou quase o corpo todo) nas artes. Acha que falar sobre si mesma na terceira pessoa é muito estranho.
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