Tomb Raider: a evolução de Lara Croft em outras mídias

Tomb Raider: a evolução de Lara Croft em outras mídias

Lara Croft é um sucesso incontestável. A protagonista de Tomb Raider já estrelou mais de dez jogos para diversas plataformas, três filmes até o momento, uma série animada, HQs, livros e peças publicitárias para diversas marcas. Assim como nos jogos, a evolução de Lara em outros ambientes aconteceu lentamente ao longo destas duas décadas de existência, sendo bastante notável em mídias mais visuais como cinema e histórias em quadrinhos. A musa supersexualizada vista pela primeira vez em 1996, amadureceu em cada universo de qual fez parte até tornar-se uma personagem coerente e complexa, muito mais cativante e próxima do público, principalmente o feminino. Conheça a seguir algumas adaptações de Lara Croft nos filmes, livros e HQs.

Lara nas telonas

Os dois primeiros filmes da franquia foram estrelados por Angelina Jolie, bem-aceita pelos fãs como a personificação da aventureira dos games, apesar de alguns detalhes que não passaram despercebidos, como uma atriz norte-americana no papel de uma personagem britânica.

Em Lara Croft: Tomb Raider (2001), a heroína está em busca do Triângulo da Luz, artefato capaz de controlar o tempo, e precisa encontrá-lo antes dos Iluminati, a famosíssima sociedade ~secreta~ que pretende dominar o mundo. O filme recebeu muitas críticas negativas com relação ao roteiro, mas se considerar que muitas adaptações de games para o cinema foram bem ruins, Tomb Raider até saiu ganhando: a produção rendeu 274 milhões de dólares e tornou-se a maior bilheteria inspirada em um jogo de videogame, além de ter sido o filme mais lucrativo estrelado por uma mulher até ser desbancado pelo incrível Mulher-Maravilha, dirigido por Patty Jenkins e estrelado por Gal Gadot.

No segundo filme, Lara Croft Tomb Raider: A origem da vida (2003), a arqueóloga precisa encontrar a caixa de Pandora antes dos vilões, para impedir que todos os males da humanidade sejam lançados ao mundo ao ser aberta, de acordo com a mitologia grega. O roteiro dessa sequência também foi alvo de críticas, mas ao contrário do primeiro título foi um fracasso de bilheteria, faturando apenas 156 milhões de dólares e encerrando o legado de Jolie como Lara Croft.

Em março de 2018 foi lançado Tomb Raider: A origem, baseado no Tomb Raider: Definitive Edition, o primeiro da nova geração de jogos, iniciada em 2013. Estrelado por Alicia Vikander, o filme conta a história de uma Lara inexperiente em busca de respostas sobre o desaparecimento do pai, embarcando em uma aventura que a tornaria a arqueóloga habilidosa que conhecemos hoje. Também não foi sucesso para a crítica especializada, mas até o momento conseguiu uma recepção melhor do público desde o primeiro filme.

Representação de Lara Croft no cinema

Falando sobre representação feminina, o ponto mais importante sobre a atuação das atrizes é que nenhuma deixou de ser massacrada, e isso diz mais sobre como a sociedade julga mulheres por não se encaixarem em padrões e menos sobre a capacidade delas. Apesar de conseguir passar o ar misterioso, sexy e atrevido da aventureira Lara Croft, Angelina Jolie não passou ilesa pelo cruel exército dos padrões de beleza, e precisou usar enchimentos para ter seios maiores e mais parecidos com a Lara de 1996.

Alicia Vikander, por sua vez, foi constantemente criticada por não representar o sex symbol dos games, apesar de interpretar a Lara menos sexualizada e em processo de amadurecimento, vista nos jogos após 2013. Até neste ponto o longa atual é mais significativo, pois Vikander conta a história de origem da protagonista e o que a transformou no que é hoje, sendo a sua garra e força para sobreviver o que a tornam envolvente e de alguma forma sedutora, não seus atributos físicos.

Leia também:
>> [GAMES] Tomb Raider: Lara Croft, muito mais que um sex symbol dos games

Lara nos quadrinhos

As HQs também evoluíram drasticamente nesses 22 anos de vida da arqueóloga. A primeira aparição de Lara Croft foi em 1997, na série Witchblade, seguida por participações em Fathom e The Darkness, ambas publicações da Top Cow (editora que lançaria Tomb Raider: Lara Croft, em 1999). Com roteiro de Dan Jurgens e artes de Andy Park e Jon Sibal, a série contava acontecimentos não relacionados aos jogos até o lançamento do sexto título, Tomb Raider: The Angel of Darkness, em 51 edições lançadas mensalmente até 2005.

Em 2013, a editora Dark Horse lançou uma nova HQ, em volume único, intitulada Tomb Raider: The Beginning, com roteiro de Rhianna Pratchett, também responsável pelo jogo de 2013. Essa edição mostrava como foi criada a equipe que embarcou no navio The Endurance com destino a Yamatai, e serviu de prólogo para os acontecimentos que se desenrolam no jogo.

Com o sucesso e a confirmação de outras sequências para o game, outra série foi lançada em 2014 para contar os eventos entre cada título, também pela editora Dark Horse. Foram 3 arcos, totalizando 36 edições, escritas novamente por Rhianna Pratchett em colaboração com a brilhante Gail Simone (DC Comics).

Em 2016 iniciou-se um novo arco de história, escrito por Mariko Tamaki (Marvel e DC Comics), para contar as aventuras de Lara entre o segundo jogo, Rise of the Tomb Raider, e o próximo título ainda em produção, Shadow of the Tomb Raider.

As histórias das HQs são ótimas, mas o importante é a parte gráfica. As capas e artes da primeira série mostravam uma Lara com formas voluptuosas, roupas minúsculas, em ângulos e poses muito apelativos, o tipo de coisa que você não veria em uma HQ de Indiana Jones ou de qualquer super-herói.

Com a chegada de Gail Simone e Rhianna Prachett no comando da nova série – apesar de serem feitas por diversos artistas até o momento – as artes trouxeram uma Lara muito parecida com a da nova geração dos jogos, mais real, com o corpo mais proporcional e condizente com o contexto da história.

Leia também:
>> [GAMES] Protagonistas nos bastidores: mulheres na história dos games, ontem e hoje
>> [GAMES] #MyGameMyName: Dando voz para aquelas que já perderam seus nomes

Mariko Tamaki também não decepcionou. O roteiro continuou consistente e as artes mantiveram o cuidado com a representação física de Lara vista nos arcos anteriores. Vitória para as fãs de Tomb Raider e de uma boa HQ, pois essas profissionais talentosas não trouxeram apenas um alívio para os olhos, mas um ganho para a representação feminina, mostrando como é possível criar e retratar uma protagonista sedutora por sua personalidade e história, e não (apenas) por seus atributos físicos.

O universo de Tomb Raider também conta com outros produtos, porém menos expressivos que os filmes e as HQs. Foram lançados quatro livros até o momento: The Amulet of Power, escrito por Mike Resnick em 2003, conta os eventos entre os jogos The Last Revelation e The Angel of Darkness; The Lost Cult, escrito por E. E. Knight e The Man of Bronze, de James Alan Gardner, trazem histórias que acontecem após o primeiro livro e foram lançados em 2004.

Pegando o embalo do jogo de 2013 e com a proposta de ser uma continuação, os escritores Dan Abnett e Nik Vincent lançaram o livro Tomb Raider: Os Dez Mil Imortais, publicado no Brasil pela Editora Nemo. Já em 2016, eles produziram uma nova aventura sem relação com os jogos, intitulada Lara Croft and the Blade of Gwynnever.

Além disso foram lançados diversos guias ilustrados, trilhas sonoras originais dos filmes e dos jogos The Angel of Darkness, Anniversary Edition, Underworld e para a geração pós 2013. Há também uma série de curtas animados produzido pela GameTap em 2007, o Revisioned: Tomb Raider Animated Series, com 10 episódios contando uma outra versão para a origem de Lara Croft, criados e dirigidos por diversos artistas, entre eles a Gail Simone.

É inegável que a franquia extrapolou os limites do universo gamer e também passou a dialogar com outros públicos, bem diferentes daquele inicial, voltado para meninos e homens. A noção de que é necessário algo a mais além de beleza física e sensualidade para entreter, é mais que um reflexo de nosso tempo, é também parte da luta por uma representação feminina mais complexa e menos superficial. A Lara do início funcionava porque na década de 90 o público feminino não tinha a voz que tem atualmente, e as poucas produtoras de entretenimento também não. Quantos pôsteres de filmes e capas de quadrinhos foram absurdamente sexualizados e era visto como algo “normal”?

A Lara de hoje é diferente, mas também funciona justamente porque os tempos são outros e exigem uma nova postura de quem produz. Quem consome este entretenimento tem outra mentalidade, quer menos “embalagem” e mais “conteúdo”. Lara Croft poderia ter deixado de dar frutos para o mercado há muito tempo, mas a sua reinvenção, e também as mulheres por trás deste processo, mostraram que a capacidade de envolver o público vai muito além do corpo de uma personagem feminina, com uma sedução mais conectada a outros fatores. Lara continua linda e sexy, mas atualmente graças a sua personalidade e habilidades, além de sua história e jornada, sua beleza física é apenas um detalhe, e isso é ótimo para ela e para nós, mulheres.

Escrito por:

66 Textos

No momento gamer casual. Em tempo integral Comunicadora, Relações Públicas e Pesquisadora. Freela como Produtora de Conteúdo, Redatora e Social Media. Pisciana e sonhadora, meio louca dos signos, meio louca dos gatos. Fã de tecnologia, games, e-sports, quadrinhos e outras nerdices legais!
Veja todos os textos
Follow Me :