[LIVROS] Jarid Arraes e Lizandra Magon lançam o selo “Ferina”: Palavras são garras!

[LIVROS] Jarid Arraes e Lizandra Magon lançam o selo “Ferina”: Palavras são garras!

No último dia 16 de abril tivemos a honra de participar do lançamento surpresa do novo selo da Pólen Livros, o Ferina, criado pela escritora Jarid Arraes e pela editora Lizandra Magon de Almeida.

O Ferina será inaugurado em julho com dois grandes (e muito esperados) lançamentos: o primeiro livro de poemas de Jarid Arraes, intitulado Um buraco com meu nome, com ilustrações a carvão feitas pela própria autora, e a coletânea de contos do projeto Leia Mulheres, com textos de jovens autoras de todo o país, incluindo várias mediadoras do projeto pelo Brasil.

Já tínhamos trabalhado juntas no livro ‘Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis’, que vendeu mais de 5 mil exemplares em seis meses. Eu ainda não tinha me aventurado realmente no mercado literário, mas vinha flertando com a poesia em títulos como a Coleção Palavra de Mãe, vencedora do Proac em 2015, e com uma singela coleção artesanal chamada ‘Mulheres de Verdades’, que saiu com quatro títulos em pequeníssimas tiragens, vendidos apenas em feiras. Depois vieram os cordéis do ‘Heroínas’. Vinha conversando com a Jarid sobre o livro dela de poemas, pensando em como trazê-lo para a Pólen. E então surgiu a ideia de criarmos juntas esse novo selo, com a curadoria da Jarid e a estrutura da Pólen”, destaca Lizandra.

Ferina

DE ONDE SURGIU O NOME DO SELO?

No evento de lançamento, Jarid explicou que sempre ouvia falar da expressão “língua ferina” (impiedosa, cruel, que fere), a qual, inclusive, costuma ser muito usada para se referir às mulheres. Além disso, quem a acompanha nas redes sociais e está atenta às suas críticas sempre afiadas, consegue de fato fazer uma ligação do Ferina com ela. E é por isso que o termo foi escolhido para dar nome ao selo, e este, por sua vez, nasce para ressignificar o seu próprio significado. Afinal, por que ter língua ferina é uma coisa ruim?

“Eu sempre fui aconselhada a colocar panos quentes, a pisar em ovos e a ter cuidado com as coisas que eu dizia a respeito do mercado editorial e da literatura, porque isso poderia me fechar portas. E o que as pessoas não pensavam é que as portas já estavam fechadas há muito tempo e eu tive que abrir essas portas exatamente dessa forma como eu fiz, né? Denunciando. Discutindo. Sendo ferina. Porque se eu não fosse ferina, eu ia ser invisível. E lutar contra a invisibilidade, lutar contra o esquecimento, lutar contra esse lugar que te empurram que é um lugar de marginalização, é a única forma possível para você se colocar… para você ser lida.” (Jarid Arraes no evento do lançamento do selo)

Foi ao observar o surgimento de várias editoras e selos que, ainda que comandadas por mulheres, traziam pouca ou nenhuma representatividade, que Jarid e Lizandra pensaram na proposta do Ferina, que é justamente viabilizar publicações de livros feitos por pessoas que não encontram o espaço e atenção merecidos no mercado editorial tradicional.

Ferina

Além de curadora que, por conhecer as dificuldades que o mercado editorial apresenta (e ter sentido na pele a discriminação e o machismo), Jarid falou que o Ferina vem como uma proposta de dar base e suporte para as mulheres que serão lançadas pelo selo. Assim, ela compartilhará com as demais autoras o seu conhecimento, baseado na vivência de quem construiu uma carreira de sucesso fazendo tudo praticamente sozinha, em que pese seu livro curiosamente não esteja na lista dos mais vendidos.

Em um ranking de uma PublishNews da vida, vendeu mais cópias (10 mil e já indo para a 4ª reimpressão!) do que o livro que está em 1º lugar entre os mais vendidos do Brasil e que é de uma grande editora! O que nos leva à intrigante questão: a quem interessa que uma autora independente não ganhe o destaque merecido de 1º lugar?

O CONSELHO DAS MULHERES SÁBIAS

Não bastasse a proposta do Ferina ser perfeita, o selo ainda conta com um Conselho Editorial “dos sonhos”, que é o mais diverso que elas conseguiram reunir. Ou seja, um verdadeiro Conselho de Mulheres Sábias!

Ferina

Cidinha da Silva é mineira. Prosadora e dramaturga, tem 14 livros autorais de literatura distribuídos entre crônicas, conto e romance. Organizou duas obras fundamentais para o pensamento sobre as relações raciais contemporâneas no Brasil, a primeira, Ações afirmativas em educação: experiências brasileiras (Summus, 2003); a segunda, Africanidades e relações raciais: insumos para políticas públicas na área do livro, leitura, literatura e bibliotecas no Brasil (FCP, 2014). Seus livros mais recentes são: Um Exu em Nova York (contos); O homem azul do deserto (crônicas) e Pílulas de letramento racial, volume 1 (ensaios curtos). Tem textos publicados em francês, espanhol, italiano e inglês.

Estela Rosa é escritora, poeta e caipira, formada em Letras pela UFRJ. É curadora e organizadora de eventos na iniciativa Mulheres que Escrevem, que promove encontros sobre mulheres escritoras das mais diferentes vertentes, além de lançamentos de livros e projetos culturais. Esteve entre os três primeiros lugares na categoria poesia do Prêmio Off Flip de Literatura 2017. Teve poemas publicados na revista Grampo Canoa, da Luna Parque Edições, na revista Oceânica e na revista gueto, além de ter participado da exposição “Cartas de Mabel Velloso”, no Oi Futuro.

Heloisa Buarque de Hollanda nasceu em Ribeirão Preto (SP), em 26 de julho de 1939. Formou-se em Letras Clássicas pela PUC-Rio, com mestrado e doutorado em Literatura Brasileira na UFRJ e pós-doutorado em Sociologia da Cultura na Universidade de Columbia, em Nova York. É diretora do Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC/LETRAS/UFRJ), onde coordenada os laboratórios: Laboratório de Tecnologias Sociais onde desenvolve o projeto Universidade das Quebradas e do Laboratório da Palavra, espaço experimental de articulação entre tecnologia e as expressões e práticas da palavra.

Jaqueline Gomes de Jesus é professora de Psicologia do Instituto Federal do Rio de Janeiro. Coordenou o Curso de Extensão “Feministas nas Trincheiras da Resistências”. Doutora em Psicologia Social e do Trabalho pela Universidade de Brasília, com pós-doutorado pela Escola Superior de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro. É autora e organizadora de livros como “Transfeminismo: Teorias e Práticas”, entre dezenas de outras publicações.

Jessica Balbino é jornalista e assessora de imprensa especializada em literatura, editora do site Margens, que foi premiado pelo Governo do Estado de Minas Gerais. Em sua dissertação de mestrado pela Unicamp, discutiu a presença das mulheres na literatura marginal/periférica. Faz a curadoria de eventos literários para o Festival Literário Internacional de Poços de Caldas (Flipoços), Sesc MG e SP e Itaú Cultural.

Juliana Gomes (Juju) é livreira, formada em marketing e especializada em negócios editoriais. Uma das criadoras e co-coordenadora do projeto Leia Mulheres. Já trabalhou em editoras como Cosac Naify e na Livraria da Vila. Hoje está na Morro Branco, especializada em ficção científica e fantasia.

Márcia Wayna Kambeba, indígena do povo Omágua/Kambeba, mestra em Geografia, professora,  escritora, poeta, compositora, cantora, palestrante, fotógrafa, locutora, contadora de histórias. Nascida na aldeia Belém do Solimões, do povo Tikuna, no Amazonas.

Neide de Almeida é socióloga, mestre em Linguística Aplicada ao Ensino de Línguas, pela PUC-SP. Autora de artigos, de materiais didáticos e de apoio , especialmente destinados a educadores e professores. Escritora e poeta. Docente e  pesquisadora, na área de leitura e literatura. Atualmente coordena o Núcleo de Educação do Museu Afro Brasil, em São Paulo, e é consultora na área de livro, leitura, literatura, bibliotecas e relações étnico-raciais..

Raquel Matsushita é designer, ilustradora e autora. Escreveu “Mínimo, múltiplo, comum” (Sesi-SP Editora), livro de contos e “Fundamentos gráficos para um design consciente (Musa Editora), além de cinco livros infantis. Foi premiada com dois Jabutis e com o prêmio da Biblioteca Nacional, entre outros. Formou-se em Publicidade e Propaganda e se especializou em design gráfico, cor e tipografia na School of Visual Arts, de Nova York. Sócia do escritório Entrelinha Design.

Simony Cristina dos Anjos formou-se em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Paulo (2011) e, durante a graduação, desenvolveu pesquisas na área do ensino de sociologia em uma perspectiva antropológica. Atualmente, é mestranda da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, tendo como enfoque de pesquisa a relação entre Antropologia, Educação e a prática etnográfica no campo educacional. É colaboradora do site Justificando, como colunista da área de Gênero e Religião.

Valentina Fraiz é ilustradora e designer gráfica. Filha de uma aquarelista, nasceu na Venezuela e radicou-se no Brasil. Mora em Pirenópolis, com suas duas filhas e cheia de bichos em volta, e produz suas ilustrações fortemente influenciadas pela figura feminina e elementos da natureza em seu estúdio montado ao lado de um pomar.

Sejamos todas Ferinas e não nos calemos, pois PALAVRAS SÃO GARRAS!

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51 Textos

Feminista e membra da União de Mulheres de São Paulo, onde é coordenadora adjunta do Curso de Promotoras Legais Populares, projeto voltado para a educação popular e feminista em direitos. É viciada em Lego, apaixonada por ficção científica/terror/horror, apocalipse zumbi e possui sérios problemas em procrastinar vendo gif’s e não lembrar o nome das pessoas. No mundo real é advogada.
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