Detroit Become Human: temas profundos, mas pouco explorados

Detroit Become Human: temas profundos, mas pouco explorados

Detroit: Become Human é o lançamento mais recente do estúdio Quantic Dream, responsável por Heavy Rain e Beyond: Two Souls. Foi lançado exclusivamente para PlayStation 4, em 25 de maio de 2018, e promete uma experiência muito diferente dos demais lançamentos do ano.

A história de Detroit: Become Human é sobre o advento do uso de androides na civilização ocidental, no ano de 2038, e os conflitos que isso causa. O game traz três protagonistas controláveis pela jogadora: Kara, Markus e Connor, androides de diferentes modelos e funções na sociedade do jogo. Assim como outros games do estilo, Detroit: Become Human foca bastante nas escolhas que você pode fazer e como isso afeta o mundo e as relações entre os personagens. Isso aumenta bastante a possibilidade do game ser jogado várias vezes, já que, além de ser relativamente curto, várias escolhas afetam os possíveis finais.

Não é apenas um “filme jogável”, como alguns exemplos do gênero. O game explora bastante o controle em si, e são raríssimos os momentos que você pode deixar o controle parado e não precise executar alguma sequência de movimentos para garantir algum objetivo ou salvar algum personagem. Além disso, os gráficos são excelentes, seja no cenário, na interface com o cenário e nas animações – neste último caso, a qualidade das imagens é tanta que em alguns momentos temos a sensação de que estamos assistindo pessoas reais.

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A equipe responsável pelo enredo utiliza muitos paralelos entre a situação dos androides e de algumas minorias ao longo da história ocidental, especialmente a de pessoas negras nos Estados Unidos com as leis de segregação racial e a de diversos grupos perseguidos durante o nazismo. No entanto, há um problema com esse tipo de paralelo, que inclusive já foi feito em outras obras – na ficção, o lado oprimido sempre oferece um risco real para o lado opressor, seja por serem mais inteligentes, mais fortes ou dotados de capacidades sobre-humanas, o que não acontece no mundo real, onde o único risco oferecido aos opressores, pelo grupo oprimido, é a perda dos privilégios obtidos pelas estruturas que reforçam a superioridade de um grupo em prejuízo do outro.

Ademais, Detroit: Become Human foi ótimo ao retratar o poder da mídia e a capacidade de distorcer ou mentir sobre informações para vender uma ideia ao público, manipulando assim a opinião pública. Em certo momento da história, há uma grande dissonância entre o que aconteceu e o que a mídia transmite, que chega a ser revoltante, considerando que sabemos exatamente como os fatos se desenrolaram.

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Uma das questões pertinentes sobre a existência de androides e as implicações disso para a sociedade humana foi a utilização deles para mão de obra não qualificada, tais como faxineiro, estivador, babá, e até mesmo como soldados. Embora isso pareça benéfico no início, o game traz a contrapartida, isso é, o fato de o desemprego (humano) ter aumentado bastante, provocando consequências negativas para humanos.

Embora boa parte das personagens do game sejam brancas, existem personagens negras de destaque, desde um dos protagonistas (Markus) até personagens secundários mas que são essenciais para o desenvolvimento da história. As demais etnias são colocadas apenas como figurantes do mundo.

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Quanto à representatividade feminina, achamos que o game pecou em alguns aspectos: o enredo da protagonista feminina é basicamente sobre seus desejos de maternidade, além de ser colocada em situações em que está completamente indefesa e sem possibilidade de controlar seu destino; uma das líderes do movimento de libertação androide é quase imediatamente colocada como par romântico de um dos protagonistas; a exploração sexual de androides traz consequências violentas para as androides femininas; e boa parte dos personagens em poder ainda são homens.

Embora a história conte com uma presidente feminina, a impressão que dá é que foi colocada para “preencher a cota”, e o mesmo tratamento não foi dado para o resto do mundo do game. É até desconcertante a falta de protagonismo dado às personagens femininas, considerando que algumas das personagens androides têm muito mais motivo para liderar a revolução do que o líder apresentado pelo game. O mesmo pode ser dito quanto à representação da comunidade LGBTQ+, visto que em determinado momento da história somos apresentadas a um casal lésbico, mas isso não é muito explorado e elas logo saem de cena, sem que sejam sequer nomeadas.

De forma geral, Detroit: Become Human oferece uma experiência diferente em termos de história e para interessadas no gênero. A jogabilidade é refrescante, mas não exige muito da jogadora, e a história traz questões muito relevantes para o cenário atual, além de reflexões sobre o impacto dessa tecnologia nas relações humanas de qualquer tipo. É uma boa indicação para quem gosta do gênero ou para quem está buscando um game diferente e focado em escolhas.

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Já era interessada em ficção científica desde criança, tem um relacionamento recheado de idas e vindas com The Sims e é capaz de falar horas sobre Mass Effect. Quando não está ganhando mais troféus na PSN, pode ser encontrada com seu Kindle na mão.
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