[SÉRIES] Marcella: O arquétipo da detetive desequilibrada em séries policiais

[SÉRIES] Marcella: O arquétipo da detetive desequilibrada em séries policiais

Marcella é uma série britânica policial e seu primeiro episódio foi ao ar em abril de 2016. Atualmente, conta com 2 temporadas completas, no total de 16 episódios de 50 minutos cada. Escrita e dirigida por Hans Rosenfeldt, um roteirista sueco e criador da série “The Bridge”, a série é protagonizada por Anna Friel, atriz britânica que ficou conhecida mundialmente pelo papel de Charlotte ‘Chuck’ Charles na série americana “Pushing Daisies”.

A série foi ao ar na ITV e está atualmente disponível no catálogo da Netflix. A história se passa em Londres e narra a vida de Marcella Summers, uma ex-policial que há doze anos largou a carreira para cuidar da família. Após uma separação traumático, ela decide retornar ao trabalho de policial. [NÃO CONTÉM SPOILERS]

Um caminho sem lei

Marcella

O foco da primeira temporada é a resolução de uma série de assassinatos que ocorre na área do departamento de polícia do qual Marcella trabalha que, de alguma forma, possui uma conexão com um caso não resolvido de mais de uma década, o qual foi investigado por Marcella. Um dos grandes problemas dessa primeira temporada é a quantidade excessiva de personagens secundários e subtramas – em alguns momentos podemos ficar perdidas com tantas informações. Com 8 episódios no total, a 1ª temporada possui um clima pesado e uma protagonista complicada que não tem controle da sua vida, apesar de ser uma ótima policial.

Algo muito rotineiro em séries do gênero é a figura do detetive desequilibrado emocionalmente, mas competente no trabalho, que já foi explorado em várias obras. Uma referência atual britânica é a série Luther, protagonizada pelo Idris Elba. Um dos diferenciais de Marcella é trazer esse arquétipo de detetive para o feminino.

A cada ano vemos cada vez mais séries policiais protagonizadas por mulheres. Séries como The Killing, The Fall e Top of the Lake circulam na lista de melhores do gênero, mas o problema é que mesmo com essa mudança de perspectiva, os estereótipos cansativos e associados ao gênero policial muitas vezes seguem presentes em narrativas protagonizadas por mulheres. Marcella peca em alguns momentos pela reprodução de tais estereótipos, mas ganha quando entra em uma discussão sobre o papel da mulher como mãe, esposa, profissional e agente social.

A ambiguidade da personalidade da Marcella fica clara em vários momentos. A trama do marido traidor é bem explorada e causa muita ansiedade, até sua resolução. Em certo momento da 1° temporada ocorre uma grande ruptura psicológica na protagonista. Os ataques de raiva seguidos da amnésia ficam cada vez mais fortes e isso causa agonia à Marcella. Há um momento na trama onde nem ela mesma sabe se quem está cometendo os assassinando é um assassino em série ou ela mesma.

Marcella

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Motivos para ver Marcella

Anna Friell está irreconhecível na sua atuação. Ela consegue passar perfeitamente o crescente descontrole emocional de sua personagem. Nicholas Pinnock e Ray Panthaki fornecem atuações convincentes como Jason Backland e Rav Sansha. Na parte técnica, os tons frios são predominantes, deixando uma sensação de uma Londres cinzenta e sufocante. A trilha sonora e o uso de instrumental é bem marcante e ajuda a construir uma atmosfera de thriller policial. Embora a trama seja focada em Marcella, um destaque positivo fica para o assustador Peter Cullen (Ian Puleston-Davies), o provável assassino. Ele é o principal suspeito nas investigações de Marcella e o responsável pelas cenas mais fortes da 1° temporada.

A 2ª temporada começa de uma forma mais sombria e violenta que a anterior. Alguns erros cometidos na primeira temporada foram resolvidos nesta e os personagens secundários tiveram mais espaço para serem desenvolvidos. Separada oficialmente, a dinâmica familiar de Marcella segue complicada. Seus dois filhos quase não tem mais relação com ela e um novo caso de assassinato em série surge, ainda mais chocante e violento que o da primeira temporada.

Marcella

Marcella não é uma personagem que desperta simpatia. Sua personalidade muitas vezes é simplesmente detestável. Com defeitos, a série não está no nível de produções atuais do gênero como The Killing e The Sinner, porém, possui uma cara própria. As excessivas reviravoltas e subtramas são pontos negativos, mas a atuação de Anna Friell segura a barra da série. Com uma 3ª temporada ainda não garantida, Marcella é uma boa opção de thriller psicológico.

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Graduada em Ciências Sociais. Cineasta amadora. Viciada em livros, séries e K-dramas. Mediadora do Leia Mulheres de Niterói (RJ).
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