[SÉRIES] Castle Rock: Um mergulho na obra de Stephen King (contém spoilers)

[SÉRIES] Castle Rock: Um mergulho na obra de Stephen King (contém spoilers)

A série antológica Castle Rock, criada por Sam Shaw (“Manhattan”, “Masters of Sex”) e Dustin Thomason, e produzida por J.J. Abram, conta com nomes como Bill Skarsgård, Scott Glenn, Sissy Spacek, Terry O’Quinn, André Holland e Melanie Lynskey. A produção tinha a difícil missão de reunir o vasto universo criado por Stephen King numa trama de suspense e terror original.

Castle Rock acompanha Henry Deaver (André Holland), um advogado de defesa do Texas, possuidor de um passado nebuloso devido à suspeita de ter assassinado o pastor que o adotou. Depois de receber um telefonema de um policial, informando que um homem desconhecido (Bill Skarsgård) que chama seu nome é mantido em cativeiro na prisão de Shawshank, ele retorna à sua cidade natal Castle Rock. Chegando no local ele reencontra sua mãe adotiva Ruth (Sissy Spacek), que sofre de demência, e sua amiga de infância Molly Strand (Melanie Lynskey), entre outros habitantes da cidade.

Entre altos e baixos

A sinopse de Castle Rock é só o começo de uma jornada confusa até o seu final. Com o total de 10 episódios, entre altos e baixos ao longo da narrativa, a obra tem pontos positivos e negativos. Os cincos episódios iniciais são bem interessantes. O clima de suspense cresce a cada episódio e as motivações dos personagens são desenvolvidas lentamente.

O grande destaque dos primeiros episódios fica a cargo dos protagonistas, interpretados pelo ator André Holland e pela atriz Melanie Lynskey, que aparentemente são vítimas das circunstâncias da narrativa da série. Até o terceiro episódio não temos ideia do que realmente está acontecendo, pois o clima de suspense e confusão permanece até o final. A partir do quarto e quinto episódio alguns segredos, lentamente, são revelados até cairmos numa ideia diversa, onde a série caminhará para um final linear. 

Castle Rock
Imagem: divulgação

Do episódio quinto em diante teremos uma inesperada virada. A revelação da identidade do homem desconhecido (Bill Skarsgård) é de uma imaginação formidável, mas o desenvolvimento de tal revelação fica para o final da trama, causado uma certa estranheza. O personagem do ator Skarsgård, no final, acabou sendo mais protagonista que o próprio Henry Deaver. A atuação de Skarsgard, inclusive, ofuscou os outros personagens que, num primeiro momento, poderiam ser essenciais, mas que acabaram perdendo suas motivações no final da série.

Tocando nesse ponto o senso genérico pelos quais os personagens secundários foram construídos foi um grande erro da série. Sabemos que eles são referências das obras do autor Stephen King, até mesmo as escolhas dos atores têm a ver com isso. A ideia da produção foi privilegiar certa atmosfera do suspense, contudo, um desenvolvimento maior dos personagens secundários ajudaria no fechamento da trama, ainda mais nos episódios finais. A retirada precoce de personagens como o xerife aposentado Alan Pangbord, interpretado por Scott Glenn, foi uma péssima escolha. Tal personagem tinha um tipo de humor que ajudava no clima da série, que no final acabou ficando apática.

A representação feminina em Castle Rock, sobretudo, não é ruim. Durante os primeiros episódios Molly ganha um destaque maior. No final, seu destino é determinante para narrativa do Henry de outra dimensão, mas a falta de carisma da personagem aliada a um descaso dos roteiristas de construir algo profundo, além das questões sobrenaturais, faz de Molly uma personagem chata e pouco atrativa. Em compensação, personagens como Ruth e Jacke Torrance (Jane Levy) são mais interessantes, contudo, como os outros personagens secundários, sofrem por serem um certo tipo de referência ao invés de elementos chaves para o desenvolvimento da narrativa.

De todas as mulheres, Ruth é quem tem um melhor desenvolvimento. No episódio “The Queen” acompanhamos sua jornada pelos horrores do mal de alzheimer. Durante todo o episódio fica claro que Ruth está presa na sua própria mente, suas memórias são como fantasmas que vem e vão através de flashbacks.

Nas lembranças do passado Ruth suspeita que o seu marido está mentalmente doente e a sua preocupação com bem-estar do seu filho a impede de fugir com o seu grande amor, o detetive Alan Pangbord. No tempo presente ela luta com o homem desconhecido ao confundir com o seu marido. Portanto, Ruth acaba atirando ao pensar que dessa vez poderia finalmente ficar livre para ser feliz com Alan, mas, tragicamente, o homem que foi atingido era Alan Pangbord. Dito isso, mesmo com um final trágico, esse episódio serviu para exaltar a atuação formidável de Sissy Spacek, lembrando que, infelizmente, ainda é algo raro ver uma atriz mais velha em destaque numa narrativa televisiva.

Castle Rock
Imagem: divulgação
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Um acerto da série foi trazer ao público diversos elementos e narrativas contidas nas obras de Stephen King. A ideia de um universo estendido e a cidade de Castle Rock como um catalisador do mau presente no mundo, é muito boa. Os elementos sobrenaturais jogados na trama são formidáveis, onde podemos nos recordar de algumas passagens da série de livros Torre Negra. 

A ideia da cidade como uma anomalia é bem desenvolvida nos últimos três episódios, mas o grande problema foi que, no final, quase todos os personagens foram esvaziados de sentidos e os elementos sobrenaturais não foram explicados pelos roteiristas. Nunca saberemos os verdadeiros motivos daqueles acontecimentos apresentados.

Castle Rock
Imagem: divulgação

Foi notório que toda construção de Castle Rock foi feita para seu season finale ser o ápice da série. O penúltimo episódio é o mais linear e claro de toda obra. Todo discuso sobre espaço-tempo, sempre muito presente nas obras de King, é explicado nesse episodio, mas devido ao esvaziamento dos personagens, comentados acima, os roteiristas não conseguiram construir um sentido claro para o Henry Deaver da outra dimensão. Para muitas telespectadoras o final de Castle Rock foi recebido com muitas frustrações e interrogações. Contudo, esse final foi bem condizente com as obras de Stephen King, que é famoso por seus finais controversos e confusos. 

Para finalizar, Castle Rock não é uma obra ruim, talvez seja focada demais em um nicho de telespectadores(a) que já possui certa familiaridade com o universo de Stephen King. Porém, sua proposta nunca foi ser um Stranger Things para adultos. O final sem solução poderia ser melhor desenvolvido. Toda fragmentação da narrativa fez a série não ser previsível, mas ao mesmo tempo foi cansativo acompanhar uma obra que, no final, não chegou em lugar nenhum.

Com uma segunda temporada confirmada, Castle Rock tem elementos de sobra para arrumar todos os erros da primeira temporada e seguir adiante na construção de um universo estendido das obras do mestre do terror.

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Graduada em Ciências Sociais. Cineasta amadora. Viciada em livros, séries e K-dramas. Mediadora do Leia Mulheres de Niterói (RJ).
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