Aquaman: compreendendo o mundo como uma gigantesca unidade

Aquaman: compreendendo o mundo como uma gigantesca unidade

Aquaman chegou aos cinemas em dezembro de 2018 para fechar com chave de ouro um ano positivo para os filmes de super-heróis. Dirigido por James Wan (de “Invocação do Mal” e “Jogos Mortais”), a obra apresenta uma das origens do herói criado em 1941 por Paul Norris e Mort Weisinger, e que vive no imaginário de toda pessoa que um dia se divertiu assistindo às animações “Superamigos” (Hanna-Barbera) e “Liga da Justiça”. Além da nostalgia iminente, o filme cumpre muito bem seu papel de mostrar a saga de Arthur em busca de autoconhecimento e preservação da boa convivência entre os povos marinhos e terrestres, tudo isto envolto por grandes doses de aventura e cenas de ação surpreendentes.

Tom Curry (Temuera Morrison), um faroleiro, salva Atlanna (Nicole Kidman) em uma noite tempestuosa. Pouco depois ela conta que é rainha de Atlântida, uma lendária cidade submarina, e que estava fugindo do casamento. Não demora muito para que os dois se apaixonem e nasça Arthur Curry (Jason Momoa), a promessa de união entre os seres da terra e os seres dos mares. Porém, quando Arthur ainda era muito pequeno, a casa da família é invadida pelas tropas de Atlântida e Atlanna decide voltar para o seu mundo, a fim de evitar que os três se machuquem. Assim, o pequeno Arthur cresce e descobre aos poucos que possui poderes especiais: consegue se comunicar com animais marinhos. Mais tarde, desvenda sua origem e passa a treinar as artes milenares de Atlântida com Vulko (Willem Defoe), tornando-se cada dia mais forte.

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Arthur e Atlanna. Foto: reprodução

A vida de Arthur muda completamente quando Mera (Amber Heard), atual Rainha de Atlântida, o procura para que ele a ajude a impedir os terríveis planos do Rei Orm (Patrick Wilson) de se tornar o Mestre dos Oceanos e possuir soberania completa sobre todos os povos. 

Há ao longo de Aquaman uma mensagem muito positiva e explícita sobre a necessidade de coexistência entre diferentes povos (a escolha dos atores também é plural), bem como a preocupação com a preservação do meio ambiente, uma vez que os humanos poluem os oceanos e isso acarreta na morte de diversos seres vivos. Longe de ser meramente panfletário, os temas são facilmente internalizados e cumprem bem sua função, caminhando lado a lado com as outras propostas do filme, inclusive servindo de base para a criação de Orm, o vilão que, tomado pela sede de poder, está disposto a pagar qualquer preço para ser ainda mais dominador, inclusive sacrificar seu próprio povo e os habitantes da superfície no processo.

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Arthur Curry. Foto: reprodução

A preocupação de Arthur com o bem-estar de todos os seres é nobre e, apesar de falhar algumas vezes, enxerga-se arrependimento no personagem. A dicotomia de sua personalidade e a confusão interior que o acompanham durante seu crescimento e reconhecimento como alguém que pode, de fato, ajudar o mundo, servem para torná-lo real, apesar do teor fantástico sob o qual se molda.

Ele chega, sim, a tomar atitudes precipitadas, porém, em diversos momentos promove cenas cômicas e leves, suavizando um pouco o peso da responsabilidade que carrega. Até mesmo os vilões, Orm e Arraia Negra (Yahya Abdul-Mateen II), possuem um desenvolvimento psicológico muito interessante, convencem o público e carregam uma motivação familiar e emocional para serem, de fato, malvados.

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Rei Orm. Foto: reprodução
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Arraia Negra. Foto: reprodução
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Outro destaque são as personagens femininas principais, Atlanna e Mera. Atlanna, ao fugir de um casamento que não desejava, contraria as regras de seu mundo e, por conta disto, passa por muitas provações. Ela aparece em poucas ocasiões, mas as espectadoras conseguem admirá-la e ter empatia por seus ideais (Nicole Kidman está maravilhosa no papel).

Mera é uma personagem forte, ativa na maior parte do filme e que, assim como Atlanna, toma decisões para o seu próprio bem e para o bem comum; ela deixa bem claro que as relações amorosas não são o que a movem a buscar mudanças e sim o bem-estar geral, da mesma forma que Arthur (logo, há uma troca muito sincera e amistosa entre os dois); mesmo sabendo da história de Atlanna e de tudo o que se sucedeu após sua partida de Atlântida, Mera se mantem firme e não recua em suas decisões.

As cenas de ação em que luta também são muito boas. Mera é muito inteligente e ajuda o protagonista a solucionar boa parte das problemáticas da trama. O único ponto negativo é ela não ter cenas grandiosas ao lado de Atlanna ou de outras mulheres que, com certeza, abrilhantariam ainda mais a representatividade feminina. Logo, o filme não passa no teste de Bechdel.

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Rainha Atlanna. Foto: reprodução
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Rainha Mera. Foto: reprodução

Referências literárias e easter eggs estão presentes em várias cenas de Aquaman. No início, Arthur cita uma frase de Júlio Verne, autor do livro “Vinte Mil Léguas Submarinas”, e o próprio título do livro faz menção à busca do protagonista e de Mera pelo tridente do Rei Atlan, objeto que só pode ser manuseado pelo verdadeiro rei dos mares, o qual terá soberania nos oceanos.

Na casa de Tom, há uma tomada que mostra um globo de vidro com uma miniatura de um farol sobre um livro de H. P. Lovecraft, autor clássico que, em suas obras, abordava os mistérios cósmicos e do mar, como no conto O Chamado de Cthulhu (talvez uma alusão aos mistérios que se escodem logo abaixo de onde viviam). Em uma das tomadas, é possível enxergar a boneca Annabelle escondida, uma homenagem do próprio diretor a um dos seus filmes de maior sucesso. 

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Aquaman apresenta uma premissa muito promissora e consegue agradar as fãs do herói e até mesmo quem não tem tanta familiaridade com sua história. A mitologia presente da trama, explorada em outras obras de diferentes formas, instiga as espectadoras, juntamente com a ação ininterrupta, que prende a atenção do início ao fim da experiência.

Há diversos gêneros cinematográficos explorados na trajetória dos personagens, como uma aventura à la “Indiana Jones” e momentos sci-fi que, em determinados quadros, lembram muito “Pacific Rim” (Guillermo del Toro). A fotografia, a trilha sonora, os figurinos e os efeitos especiais são incríveis e, nas telonas, promovem uma experiência sensorial extremamente satisfatória.

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Um dos cenários de Aquaman. Imagem: reprodução

Aquaman ainda está em cartaz nos cinemas de todo o país e é uma ótima experiência para este restinho de férias!

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Formada em Letras, pós-graduada em Produção Editorial, tradutora, revisora textual e fã incondicional de Neil Gaiman – e, parafraseando o que o próprio autor escreveu em O Oceano no Fim do Caminho, “vive nos livros mais do que em qualquer outro lugar”.
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