Um Buraco com Meu Nome: as mulheres brasileiras que carregam a caligrafia da resistência

Um Buraco com Meu Nome: as mulheres brasileiras que carregam a caligrafia da resistência

Sabemos o quanto a literatura possui a força de nos moldar e reconstruir o nosso olhar. Pensando nisso, queremos indicar um livro de poesia de uma autora nacional que mais pessoas deveriam conhecer. Um Buraco Com Meu Nome, da autora nordestina e cordelista Jarid Arraes, inaugurou o Selo Ferina – criado por Jarid em parceria com Lizandra Magon de Almeida. O selo possui uma curadoria voltada para a representatividade na literatura nacional, com intuito de viabilizar publicações de livros feitos por pessoas que não encontram o espaço e atenção merecidos no mercado editorial tradicional.

No livro “Um Buraco com Meu Nome” Jarid expõe, através das garras bem afiadas de suas palavras, em conjunto com as  ilustrações que ela fez em carvão, as dores e os prazeres que uma mulher carrega dentro de si. As poesias de Jarid são costuradas pelo estado de selvageria da mulher que busca sua libertação, – de todas as amarras da sociedade – ao mesmo tempo em que a autora expõe o machismo e a intolerância presenciada nas regiões do nordeste do Brasil, onde viveu sua infância. 

Filha e neta de cordelistas, Jarid Arraes relembra das memórias vividas e sentidas na região do Cariri, em Juazeiro do Norte (CE), e escreve poesias cortantes sobre mulheres que revelam a dualidade da força e da vulnerabilidade, trazendo ao mesmo tempo uma  importante reflexão sobre o perigo de romantizarmos a força das mulheres – pensando em nossas mães, avós e mulheres fortes que nos inspiram – e ignorarmos suas agruras.

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Jarid Arraes fala também sobre a coragem da desistência em um mundo onde somos programadas para a tentativa constante e o sucesso a qualquer custo – mesmo que isso comprometa a saúde mental da mulher. Fala sobre a “loucura feminina” e como ela é catalogada e usurpada pelos homens, seja dentro dos lares ou no poder institucional.

Fala sobre as mães e avós que dormiram, ou ainda dormem nos dias atuais, o sono da injustiça, devido aos corpos de seus filhos e netos que sofreram as injustiças praticadas pela violência discriminatória policial e cujos corpos foram enterrados em valas comuns, em uma homenagem forte e marcante para as mães de maio.

Jarid fala, sobretudo, do poder da união feminina e da resistência da caligrafia dessas mulheres que carregam dores profundas, pesos imensuráveis, como vimos na poesia dedicada à Amelinha Teles – uma sobrevivente da violência misógina praticada na época da ditadura militar no Brasil.

Um Buraco com Meu Nome” é um livro sobre a força das mulheres, expondo as dores e sequelas que essas mulheres carregam em suas jornadas, seja através do nordeste brasileiro ou em qualquer outro canto do país. A obra de Jarid é universal, uma vez que o corpo feminino manifestado através das palavras da autora é marcado por tanto por situações prazerosas como abusivas ao redor do mundo.

Que através de leituras como essa possamos refletir sobre os mais de 100 feminicídios ocorridos no Brasil em 2019. Que tenhamos força para continuar lutando contra toda a violência que as mulheres brasileiras são submetidas todos os anos, principalmente aquelas que são apagadas da história e dos noticiários devido aos fatores de raça e classe econômica. As mulheres negras, indígenas, nordestinas, as trabalhadoras que estão entre os maiores índices de violência e abuso em nosso país. Aquelas que não entram nas estatísticas da violência de gênero, mas que são expostas pelas poesias de Jarid Arraes.

Um Buraco com Meu Nome

Se pudéssemos resumir “Um Buraco com Meu Nome” com uma palavra, ela seria resistência. Permanecer viva é um privilégio e não um direito em nosso país. Devemos utilizar da nossa vida e resistência para continuarmos na luta por um país que reconheça a mulher como um sujeito e não como um corpo descartável, que reconheça sobretudo aquelas que estão mais vulneráveis à violência masculina. Que tenhamos força para reconstruirmos um país onde nenhuma de nós faça parte da estatística do feminicídio e dos abusos praticados pelo namorado, marido, familiar ou desconhecido. Como disse Audre Lorde: “Não sou livre enquanto outra mulher for prisioneira, mesmo que as correntes dela sejam diferentes das minhas“.


Um Buraco com Meu NomeUm Buraco Com Meu Nome

Jarid Arraes

160 páginas

Pólen Livros / Selo Ferina

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Fundadora e editora do Delirium Nerd. Apaixonada por gatos, cinema do oriente médio, quadrinhos e animações japonesas.
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