American Gods – 02×07: O Tesouro do Sol (resenha)

American Gods – 02×07: O Tesouro do Sol (resenha)

O penúltimo episódio de American Gods voltou sua atenção para a saga de um dos personagens mais interessantes da trama: Mad Sweeney (Pablo Schreiber), o leprechaun. Espectadoras e espectadores puderam, através de flashbacks, acompanhar as diversas versões da história do encrenqueiro personagem do folclore irlandês. 

[CONTÉM SPOILERS DE O TESOURO DO CÉU]

A segunda temporada de American Gods está perto de seu fim: o último episódio será exibido dia 28 de abril no canal Starz e no dia 29 pelo streaming da Amazon Prime Video; os produtores já adiantaram que a season finale será surpreendente – o penúltimo episódio, “O Tesouro do Sol“, nos mostrou todo o potencial que a série possui de melhorar seu ritmo, corrigir alguns problemas de roteiro e voltar a contar excelentes histórias como fora na primeira temporada. Dedicado a resgatar as memórias perdidas do leprechaun, o episódio foi emocionante e narrativamente rico, uma vez que utilizou o próprio estado de profunda embriaguez e confusão mental do personagem para elucidar a confusa linha cronológica e veracidade de sua origem. 

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Shadow manuseando Gungnir (Imagem: reprodução)

Shadow (Ricky Whittle) encontra Sweeney embaixo de uma ponte em Cairo, desacordado, e ao reanimá-lo conversam sobre os planos de Mr. Wednesday (Ian McShane). Sweeney, então, nota que não está se sentindo bem – ele tem alucinações com formigas e, ao voltarem para a funerária de Mr. Ibis (Demore Barnes), ele vê banshees, criaturas do folclore irlandês que, segundo a lenda, aparecem para quem está prestes a morrer.

Abraçando o mau presságio como algo iminente, ele enfrenta Mr. Wednesday, diz estar fora de suas jogadas e exige a quebra do contrato que os dois possuem, ao passo que Wednesday nega a proposta, deixando-o enfurecido. O deus ainda utiliza um galho de Ygdrasil, cuja muda fora plantada nos episódios anteriores, agora já grande, para emendar o cabo partido de Gungnir, sua lança. Ao fazer seu encanto e ver a arma inteira novamente, nomeia Shadow como protetor do objeto.

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O episódio segue com lampejos da história de Mad Sweeney sendo mostrada de forma desconexa. Primeiro, ao encontrar Bilquis (Yetide Badaki) na capela funeral, após um sermão da deusa, o leprechaun começa a contar sobre uma maldição colocada sobre ele em seu passado. Já para Salim (Omid Abtahi) e aparentemente sobre influência de Bilquis, ele lembra-se vagamente de ter sido um rei, casado e com uma filha, que abandonou seu exército em meio a um combate e que, por conta disto, havia sido amaldiçoado pelos Monges Cinzas, uma ordem católica estabelecida no território irlandês. Após isto, o rei passara a ser atormentado pela insanidade ao ponto de não mais reconhecer a própria família.

Mais tarde, ao encontrar-se com Mr. Ibis, o qual escrevia a história de Sweeney em seu imenso livro de histórias, relembra através do deus egípcio que ele, muito antes de um rei, também fora um deus-guerreiro, o Deus Sol. Mr. Ibis, então, diz uma das melhores frases da série, que “histórias são mais reais do que a própria verdade“, fazendo alusão à própria existência dos deuses, uma vez que, para existirem, precisaram ter suas histórias contadas.

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Mr. Ibis em seu discurso (Imagem: divulgação/Amazon Prime Video)

Mad Sweeney ainda tem tempo de conversar mais uma vez com Shadow, antes do ato final, e o faz prometer que, quando um determinado acontecimento estivesse prestes a acontecer, Shadow não iria tentar interferir. O acontecimento, no caso, foi a própria morte de Sweeney pelas mãos de Shadow: ao enfrentar Wednesday e dar sua palavra final de que não mais o seguiria e obedeceria suas ordens, Sweeney conta que fora ele quem armara a morte de Laura a mando de Wednesday. Ele e Shadow brigam e Sweeney acaba sendo apunhalado por Gungnir, porém antes de morrer, transforma a arma em parte do seu tesouro do sol (no folclore, o leprechaun possui um tesouro escondido no fim do arco-íris, daí a fonte de poder e riquezas que Sweeney demonstrara em determinados momentos da temporada passada e da segunda).

É interessante ver a desconstrução do personagem ao longo dos episódios. Sweeney chegou ao seu limite e, ao ver-se em uma posição inferior à que possuiu algum dia, questiona seu mestre e acaba com tudo, antes mesmo que o restante de sua dignidade fosse jogado fora. A personalidade briguenta e beberrona é finalmente explicada; mesmo em sua última aparição na série, podemos acompanhar a fragilidade e as diversas facetas que, no fundo, ele possuía (antes de morrer, Sweeney finalmente conecta todos os fios soltos de seu passado e relembra que, de fato, fora um rei, talvez pelo seu laço afetivo com a esposa e a filha que tivera). 

Na primeira cena, o personagem alerta Shadow, através de aparentes metáforas, sobre os perigos que ele está correndo ao seguir Wednesday na guerra que está por vir. Para quem leu o livro, a fala do personagem conecta-se a momentos soturnos que estão por vir. E, por falar no livro, vale salientar que a expansão que a série deu para alguns personagens, assim como fez com a história de Mad Sweeney, permite que a metaficção de Neil Gaiman ganhe ainda mais força e permeie nosso imaginário por muito mais tempo.

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Lámh Fada, o Deus Sol, na cena da batalha (Imagem: reprodução)

“O Tesouro do Sol” contou com uma estética espetacular, principalmente nos flashbacks e, em particular, na cena da batalha entre  o exército de Lámh Fada e os guerreiros fomorianos.

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Laura e Mamma-Ji (Imagem: reprodução)

No episódio, ainda, vemos Laura (Emily Browning) conversar com Mamma-Ji (Sakina Jaffrey) sobre sua saga em busca do resgate de sua imortalidade. Mamma-Ji mostra-se como divindade para Laura, após ser provocada pela personagem, e a deusa a alerta sobre o poder da destruição que, por conta da moeda de Sweeney, Laura possui.

Confira, abaixo, o teaser do último episódio, Moon Shadow:


Edição realizada por Gabriela Prado e revisão por Isabelle Simões.

Escrito por:

117 Textos

Formada em Letras, pós-graduada em Produção Editorial, tradutora, revisora textual e fã incondicional de Neil Gaiman – e, parafraseando o que o próprio autor escreveu em O Oceano no Fim do Caminho, “vive nos livros mais do que em qualquer outro lugar”.
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