Rey: força motriz, protagonismo e renovação!

Rey: força motriz, protagonismo e renovação!

Quem é Rey? Essa é uma pergunta recorrente na nova trilogia de Star Wars. Quem ela é, porém, acaba sendo facilmente transformado pelos fãs no questionamento de quem seriam seus pais. E a verdade é que isso… não importa. Para quem acaba de descobrir a saga ou para quem a ama desde a infância, a linhagem dela não deveria importar. Sua importância mora no imaginário dos fãs que acompanharam seis filmes anteriores a este, assumindo uma continuidade em forma de legado e mistério.

Rey é uma personagem consolidada independente de sua genealogia. Rey é a celebração de, finalmente, uma mulher não sexualizada estar ao centro da história com sua força física e intelectual, numa jornada apenas sua em destaque. De pilotar, correr, ter toda a magia cinematográfica a qual foi negligenciada há antigas gerações. Rey é uma órfã abandonada à própria sorte. Rey é a porta de entrada de toda uma nova sorte de garotinhas e adolescentes que vão levar Star Wars adiante. De garotinhos que vão levar Star Wars adiante. Este é o verdadeiro legado, a verdadeira importância que se deve atribuir à personagem.

Rey - Star Wars
Rey criança em cena de filme da saga “Star Wars” (Imagem: divulgação)

Para os que questionam a força dela, deveriam assistir os filmes com os olhos mais abertos uma segunda vez ou apenas deixar de lado as desculpas e dizer que tanto questionamento apenas existe por ela ser mulher. Rey cresceu sozinha num ambiente inóspito, onde não podia se permitir confiar em ninguém. Ela é a mais forte dos três protagonistas, a que encontrou mais adversidades desde pouca idade.

Em sua primeira cena já deveríamos entender a mensagem: ela é uma sobrevivente. E ato após ato apenas se confirma que não importa a origem atribuída à ela, não importa a teoria que acabará por vencer, da mais famosa à mais obscura: seja uma Skywalker, uma Kenobi, um clone ou ninguém. Não importa seu sangue. O que importa são suas ações, sua esperança de um mundo melhor, apesar do que enfrentou, seu sorriso gigantesco quando diante de novos cenários que nunca foram explorados por ela.

Rey: aquela que procura

No primeiro filme, encontramos uma jovem que não conhece o universo, estranha às coisas bonitas da Galáxia. Uma jovem que apenas conhece as lendas do Império e suas consequências com a Nova Ordem. O deserto, o calor em sua pele e os habitantes de Jakku, cujo caráter de muitos a coloca em prova desde tenra idade. Como questionar as habilidades de alguém que cresceu sob a necessidade de estar sempre em alerta? Preparada para qualquer tipo de situação? Rey é pura intuição e instinto de sobrevivência.

Rey
Rey em filme da saga “O Despertar da Força” (Imagem: divulgação)

Daisy Ridley foi uma escolha perfeita para a personagem que tem de transmitir, muitas vezes apenas com seu olhar e sorriso, o quanto está maravilhada e investida na nova jornada, no chamado da Força. Rey se descobre e leva com ela o novo espectador, aquele que desconhece o mundo de Jedis e Siths, aquele que sabe sobre Luke Skywalker ser uma Lenda, mas não quem ele é, aquele que apenas ouviu contos mas não conhece a fundo a história. Rey é renovação e o despertar. Ela acorda a Força e procura pela Força como quem sente uma parte muito importante de si mesma, ainda vazia em seu âmago. Mas sua aventura é tão genuína e apaixonada que, através dela, somos jogadas de volta na Galáxia muito, muito distante, que há muito não víamos. Rey sorri, vibra e chora ao mesmo tempo que nós. E onde nossas emoções são construídas na nostalgia, as dela são a de alguém que por tempo demais buscou apenas pertencer.

Rey não é apenas A Escolhida. Rey é, acima de tudo, humana. Imperfeita. Em construção. Mesmo já provida de tantas habilidades físicas por sua infância e adolescência complicadas, ela ainda tem um novo mundo a descobrir. Neste ponto, o novo Star Wars investe no conceito de energia pura. Rey, assim como Kylo, é incansável. Mas Rey é a canalização da energia voltada para o bem. A prova de que, independente da solidão e traumas, existe uma pequena fagulha dentro de toda pessoa, capaz de provocar um incêndio apaixonado por pertencer, por buscar o bem.

Rey: aquela que inova

Star Wars, que sempre foi o caminho do herói homem, branco e cis, agora tem uma mulher como protagonista. E, obviamente, isso não agradou todo o público, que teve uma parcela dedicada a encontrar defeitos narrativos em todo e qualquer passo dado por ela, não importando o fato de ter criado a si mesma num ambiente inóspito, não importa se ela foi abandonada à própria sorte e tinha de conviver com mercenários, não importa se tinha de procurar peças envelhecidas em cenários perigosos e aprender a se defender da natureza e dos homens, não importa se ela conseguia viver com comida contada e em períodos de extensa provação do seu físico – Rey é uma mulher. Pequena, de poucas curvas e que ousa ficar suada e com o rosto vermelho pelo cansaço em tela. Algo tão trivial parece provocar uma onda de desagrado.

Rey é uma mulher, não tão charmosa quanto consideravam Anakin, não tão pura quanto consideravam Luke. Ela não se encaixa no protagonismo que conheciam nas trilogias anteriores, onde Padmé e Leia eram adornadas por visuais oscilantes entre os belos e os sexualizados. Houve uma onda de resistência muito grande na ideia de que seríamos agora guiados pela aventura de uma Jedi. Uma possível Jedi.

Teorias e mais teorias foram sendo criadas para o surgimento de outros Jedis ou de que o filme, na verdade, seria sobre a saga de Kylo Ren. E enquanto ele é sim importante, não é o ponto central que move os acontecimentos. E tirar o protagonismo dos homens brancos foi definitivamente um dos pontos mais positivos da nova série, provavelmente onde doeu em parte do público e fez a outra se emocionar por ter o privilégio de conhecer mais um lado de sua narrativa predileta.

Rey em “O Despertar da Força”
Daisy Ridler como Rey em “O Despertar da Força” (Imagem: divulgação)

Tantos debates abrem para a discussão de que o universo cinematográfico de Star Wars parece obcecado com o mesmo padrão de beleza. Aqui, a escolha de Ridley é questionada, não por culpa da atriz, mas dos idealizadores. Rey é uma mulher, sim. Porém branca, de olhos claros, que apesar de não ter a feminilidade padrão das mulheres no cinema, ainda assim atende aos padrões de beleza sociais.

O problema é ainda maior quando você considera que os traços de Rey lembram os de Leia e os de Jyn Erso, protagonista de Rogue One. Tanto que, por muito, foi especulado se as três teriam alguma ligação genealógica, que até então nunca se confirmou. Ou seja, os produtores de Star Wars são culpados de perpetuar padrões e, ainda mais, sem ser preciso nem olhar muito fundo ou ser fã da saga, de um comportamento racista quanto às mulheres negras em seu Universo.

Aquela que acompanha problemas antigos

Lupita Nyongo, uma atriz fantástica, que pouquíssimas estão em par atualmente, está no elenco. Mas o espectador dificilmente lembra disso, já que ela está no papel de Maz Kanata. Maz não tem forma humana, sendo uma humanoide de pele laranja. Lupita apenas dubla a sua voz. Isso não seria um problema, talvez, se durante todas as trilogias principais mulher negra alguma tivesse papel bem construído ou de destaque na série – ou sequer destaque real algum. Estes são os fatos.

Para além disso, há apenas defesa cega ou especulação. Thandie Newton participa do filme “Solo: A Star Wars Story”, tendo sua personagem prejudicada por um texto que não sabia exatamente o que fazer com seus personagens e cujo fator emocional foi raso ao ponto de muitos ignorarem a película como parte do mundo de Star Wars.

Thandie Newton em Solo: A Star Wars Story
Thandie Newton em “Solo: A Star Wars Story” (Imagem: divulgação)

Nenhuma obra está imune a comentários críticos e Star Wars é um Universo onde o padrão de representação feminina é bastante delimitado. Durante todos os filmes, há uma falta de diversidade notória. Não precisamos sequer nos esforçar para perceber isso. O destaque sempre permaneceu na mão dos brancos e todos os personagens com diversidade racial eram usados para um ponto x da história, não como condutores ou partícipes de toda ela. Apenas a trilogia que Rey protagoniza parece se preocupar em fugir do estereótipo que marcou as demais.

Finn, quem vive a aventura principal ao lado de Rey, é um homem negro que tem história e desenvolvimento próprio dentro dos filmes. Sua existência não depende da de nenhum outro personagem e tem conflitos que movem pontos da história. John Boyega encarou diversos ataques racistas por conta disso, mas a saga felizmente lhe conferiu maior poder e nome em Hollywood, que ele está usando em favor de causas sociais e promover diversidade com sua produtora e em seus projetos paralelos.

Além de Finn, temos Poe. Oscar Isaac ganhou maior destaque no segundo filme após, talvez, o grande agrado dos fãs ao piloto interpretado pelo ator latino. E finalmente temos a incrível Kelly Marie Tran, mulher asiática americana e dona de um dos plots no Episódio VIII que tem mais tempo de tela e mais coração investido no texto. Alguém dentro da produção anda atento à necessidade de representação. Esperamos que ela siga adiante e entregue às mulheres negras, para ontem, o destaque que merecem. O argumento de “temos de ir devagar” é raso e incoerente. Racista por si só e deve ser ignorado por ações práticas.

No Episódio IX temos a adição de mais diversidade ao elenco e produção, sendo Victoria Mahoney uma das diretoras e Naomie Ackie viverá a personagem nomeada Jannah. Ficamos na torcida para que a personagem nova não seja mal aproveitada, que tenha uma história firme e própria; para que a diversidade crescente na nova trilogia não seja podada ou apenas acessória, pois para além dos que fazem barulho em suas reclamações sobre representatividade “forçada”, existem fãs verdadeiros da saga que são envolvidos e encantados por ela, querendo apenas se identificar na Galáxia mais famosa do mundo do cinema.

Rey: aquela que resiste, pertence e brilha

Rey
Rey em “O Despertar da Força” (Imagem: divulgação)

O encanto de Star Wars existe. Os seus personagens nos trazem um sentimento de esperança que foi o agente capaz de promover o encanto por tantas décadas. Rey faz parte desse encanto. Ela é a própria renovação, o Balanço da Força que veio para reunir novos fãs ao redor do mundo e trazer para muitas crianças, meninas principalmente, a mensagem de que elas podem sim ser fortes. Fortes, aventureiras e donas da própria história, que a empatia pelo próximo deve existir, que seus amigos importam, que vale a pena lutar pelo mundo. Rey é uma mensagem de resistência, ainda que fictícia, para as antigas gerações, e um chamado à Resistência para todos os novos apaixonados por esse cenário fantástico.  

O equilíbrio que a nova usuária da Força traz para o novo cenário de Star Wars é uma mensagem de que nada é tão simples. Nada é apenas limítrofe, que os limites não são resolutos. Pode existir uma balança, um meio termo, que na história da odisseia espacial é em forma da Força, mas em nossas vidas está em cada pequena coisa. Nada vai ser sempre ruim, sempre bom, nada está decidido e cravado para sempre. A mudança vem, ninguém é de todo bom ou ruim, o ser humano é pleno em suas nuances – e em sua capacidade de ser o protagonista da própria história, mesmo que você, assim como Rey, acredite não ser ninguém. Existe lá fora um mundo para garotinhas e garotinhos serem aceitos, para os solitários encontrarem uma família criada por si mesmo, para os rejeitados encontrarem a verdadeira aceitação.

Rey é sorriso contagiante e força bruta, que fez nascer toda uma nova geração de fãs, cosplayers, crianças e adultos que querem de algum modo pertencer ao universo dela. Essa é a aventura que Rey nos leva: a heroína que busca não apenas salvar sua geração, mas os indivíduos, a beleza, os laços e o coletivo que ela descobriu existir e abraçou sua existência. Rey é brilho, perseverança, força e vontade própria, e que a Força a guie em seus novos caminhos e traga consigo a glória definitiva da personagem, mais cenas memoráveis, batalhas que entre tudo de si e, finalmente, a paz e equilíbrio que ela tanto procura em “The Rise of Skywalkernos cinemas em dezembro.


Edição realizada por Gabriela Prado e revisão por Isabelle Simões.

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Escrevo onde meu coração me leva. Apaixonada pelo poder das palavras, tentando conquistar meu espaço nesse mundo, uma frase de cada vez.
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