Las Chicas del Cable: empoderamento, lutas sociais e outras cositas más na 4ª temporada

Las Chicas del Cable: empoderamento, lutas sociais e outras cositas más na 4ª temporada

Você acha que não consegue ter paz na sua vida? Aposto que não é nada comparado às personagens de “Las Chicas del Cable” (As Telefonistas). Durante as três temporadas acompanhamos muitos momentos de coração apertado, lágrimas nos olhos e muita tensão. E a quarta temporada não foi diferente. Abandonando um pouco as cabines telefônicas, as telefonistas se dedicaram a outras atividades e frequentaram outros lugares da cidade de Madrid.

Passado um ano dos acontecimentos que marcaram o fim da terceira temporada de “Las Chicas del Cable“, as personagens principais se mantiveram unidas, porém tinham prioridades diferentes em seus horizontes.

Lidia/Alba (Blanca Suáres) ainda tinha dificuldades em superar o que havia acontecido com Francisco (Yon Gonzalés), se concentrando por um tempo em sua filha Eva e em Carlos (Martiño Rivas). Carlota (Ana Fernández García) se empenhava em sua carreira política, sendo candidata à prefeitura, com o apoio de Óscar, conhecido ainda como Sara pela sociedade (Ana Polvorosa). Ángeles (Maggie Civantos) continuava trabalhando na companhia telefônica, sempre preocupada em garantir o futuro de sua filha, que continuava morando no interior. Já Marga (Nadia de Santiago) além se manter firme no sonho de se mudar de cargo, enfrentava situações drásticas em sua relação com Pablo (Nico Romero).

A quarta temporada começa com uma festa, celebrando a candidatura de Carlota. E nesse primeiro episódio, já podemos começar a ter uma ideia de como será o desenvolvimento da narrativa. Com um enredo dramático, inspirado nas novelas mexicanas, a temporada atual de “Las Chicas del Cable” tem uma pitada própria: empoderamento, lutas sociais e outras cositas más.

AVISO: o texto abaixo contém SPOILERS da 4ª temporada de “Las Chicas del Cable”

4ª temporada de Las Chicas del Cable
Elenco de “Las Chicas del Cable” na 4ª temporada. (Imagem: reprodução)

“O modo que vivemos também é uma forma de lutar”

Nesta quarta temporada, os temas sociais continuam sendo destaque no roteiro de “Las Chicas del Cable“. Porém, se por um lado temos a exaltação das diversidades, por outro lado, temos um retrato fiel de como a sociedade funcionava – funciona – de formas preconceituosas e machistas. Isso é trazido quando, por exemplo, Lidia/Alba demite um diretor durante uma reunião da companhia, porque ele não aceitava receber ordens de uma mulher, ou quando Carlota é chantageada com fotos de seu relacionamento com Óscar.

Ou seja, no início dos anos 30, a luta e a conquista de direitos atravessava a história da Espanha, e isso é percebido na vida cotidiana das personagens da série. O divórcio de Marga e Pablo, a presença de mais personagens lésbicas ou gays e, mais do que nunca, o empoderamento feminino como tema central. Portanto, aliadas aos momentos de drama clássicos, temos críticas e discussões muito importantes, ainda necessárias nos tempos atuais.

4ª temporada de Las Chicas del Cable
Cena da 4ª temporada de “Las Chicas del Cable”. Imagem: Netflix / divulgação)

Claro que as personagens principais devem ser autossuficientes e confiar em seus instintos e intuição. Porém, em alguns momentos, fica uma sensação de que elas são mais do que destemidas, pois acabam se comportando de maneiras teimosas e egoístas. Numa tentativa feroz de provar a inocência de Carlota, acabam passando por cima de mulheres e homens que também poderiam ajudar. Mas, digna de nota, é a trama policial muito bem desenvolvida, que dá o tom da temporada entre o cárcere e a delegacia, através de diversas investigações e confusões envolvidas.

Falando de construções narrativas da série, precisamos falar sobre Elisa (Ángela Cremonte). Empoderada dentro de seus próprios limites, nos mostra nessa temporada uma personagem resolvida com os fantasmas de seu passado, principalmente sua relação com Francisco, mas ainda com problemas em relação à sua mãe, sendo manipulada por Cármen (Concha Velasco), que volta para assombrar a vida dos Cifuentes e trazer mais confusão para a vida de Lidia e Eva.

Elisa, portanto, é colocada como peça-chave mediadora da narrativa familiar, pois ao mesmo tempo que facilita encontro entre Carmen e Eva, de uma forma inconsequente, também procura proteger aqueles que ama, como quando dá uma bronca em Carlos por causa de sua relação tóxica com Lidia.

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4ª temporada
(Imagem: Netflix / divulgação)

Ainda sobre a família Cifuentes, fica um incômodo. Pecando no exagero, a trama de “Las Chicas del Cable” nos traz um drama que parece andar em círculos: manipulação, traição, culpa e mentira, com Francisco se mantendo como o grande salvador nos momentos de crise. Temos, então, um círculo vicioso e familiar, que faz com que as inspirações dramáticas sejam mais do que um método, mas sim um exagero.

Os homens na 4ª temporada de “Las Chicas del Cable”

Sobre exageros, temos ainda o triângulo amoroso entre Lidia/Alba, Carlos e Francisco. O coma de Francisco garantiu que Lidia se mantivesse devota a ele – também graças ao sentimento de culpa – e se ocupasse em passar boa parte do tempo no hospital, na esperança que ele acordasse. Enquanto isso, mantinha uma relação afetuosa e próxima de Carlos, disposto a manter essa situação a qualquer custo, inclusive mentindo sobre o fato de Francisco ter acordado com uma única memória latente: seu amor por Alba, a adolescente que havia se perdido dele anos atrás.

Numa série que as personagens principais são mulheres, estes dois personagens masculinos chamam especialmente a atenção. Com o desenrolar da quarta temporada de “Las Chicas del Cable“, vemos Carlos se transformar num personagem duvidoso, capaz de manipular pessoas e situações para alcançar seu grande objetivo: casar com Lidia e, com sorte, ser feliz para sempre.

4ª temporada de Las Chicas del Cable
Cena da 4ª temporada de Las Chicas del Cable. (Imagem: Netflix / reprodução)

Já em Francisco se opera uma grande diferença a partir do momento em que ele acorda do coma. Sem muitas memórias, tal personagem parece uma versão diferente de si mesmo. Com maior desenvoltura e capacidade de tomar decisões, também mostra que não poupa esforços para atingir seus maiores objetivos: ficar com Alba/Lidia e manter Eva em segurança.

Portanto, a quarta temporada de “Las Chicas del Cable” constrói e reconstrói suas personagens. Com o fim da temporada, ninguém – principalmente quem está assistindo – será ou estará do mesmo jeito em que começou.

“Não está cansado do sistema oprimir os mais fracos?”

Assistir “Las Chicas del Cable” nos enche de vontade de morar em Madrid na década de 1930. Tudo parece perfeito e ordenado. A paleta de cores se destaca e temos a sensação de que os personagens combinam entre si com seus looks diários. Além disso, temos uma trilha sonora belíssima, pecando apenas na falta de músicas em espanhol – algo comum em produções espanholas – mas que, ao mesmo tempo, traz um tom moderno aos episódios, nos deixando com vontade de logo abrirmos os players de áudio e procurarmos por playlists da série. Fica aqui, então, palmas para aqueles e aquelas responsáveis pela produção, arte e fotografia.

4ª temporada
Cena da 4ª temporada de “Las Chicas del Cable”. (Imagem: Netflix / divulgação)

Já em relação ao roteiro, não podemos dizer o mesmo. A série apresenta cansaço. A inspiração das novelas mexicanas se mostra gasta numa exibição de clichês temáticos, como cenas de brigas seguidas de morte (com piano forte ao fundo), sequestros malsucedidos e muitas frases de efeito. É claro que a aposta nos clichês não foi totalmente perdida. O alívio cômico de Marga e Pablo refresca a narrativa, mostrando que no meio de tantas personagens amargas, ainda é possível que a fofura resista no caos.

Por fim, a quarta temporada de “Las Chicas del Cable” não nos apresenta nenhuma fórmula mágica. Apostando ainda na mesma composição das temporadas passadas, a série é uma empoderada novela mexicana (espanhola, nesse caso). Assim, costurando as narrativas diversificadas com os fios das lutas sociais, a série já nos deixa um instigante gancho para o que veremos na próxima temporada: o papel das telefonistas na Guerra Civil Espanhola, trazendo mais uma vez a ficção para a realidade e vice-versa.


Edição realizada por Isabelle Simões.

Escrito por:

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Uma adolescente emo virou uma hipster meio torta que sem saber muito bem o que fazer, começou jogar palavras ao vento e se tornou escritora e tradutora. Também é ativista dos direitos humanos. Além disso é lésbica, Fé.minista, taurina. E, principalmente, adoradora de gatos e de café.
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