“Gakuen Babysitters” e a subversão da masculinidade tóxica

“Gakuen Babysitters” e a subversão da masculinidade tóxica

Gakuen Babysitters“, ou “School Babysitters”, (como está traduzido no crunchyroll) é uma série que se apresenta como ela é. Em uma tradução livre, o anime “Babás da Escola” se trata da história dos cuidadores das crianças pequenas em uma escola e todas as peripécias e situações inusitadas que derivam disso. A maioria, filhos pequenos de professoras. Sem grandes vilões, tramas megalomaníacas ou grandes cenas de ação – sem considerar crianças subindo pelas paredes –, o drama é construído bem ao estilo slice of life, com emoções genuínas e muitos momentos kawaii. <3

A história é centrada em dois irmãos, o adolescente Kashima Ryuushi e o pequeno Kotarou, que ainda mal fala ou anda. Com a morte de seus pais em um acidente de avião, os irmãos são abrigados na escola Gakuen, regida a mãos de ferro pela diretora Marinomiya Youko – que perdeu o filho e a nora no mesmo acidente. Sendo este o fato que impulsiona o início da narrativa, até aqui ela se assimila ao início das narrativas mais clássicas de ação e aventura que conhecemos. O desgarramento dos pais, a responsabilidade de se tornar “o homem da casa”… parece familiar? O que normalmente viria depois, principalmente quando se trata de um protagonista homem, seria uma série de acontecimentos violentos. E a superação das emoções mundanas seria resumida em uma façanha heroica e pontual.

Lugar de homem é… na creche?

Gakuen Babysitters (crítica)
Cena de “Gakuen Babysitters”. (Imagem: divulgação)

“Gakuen Babysitters” não poderia ser mais diferente. Para sustentar o irmão e ambos serem aceitos na escola da rígida diretora (a cabeluda, como diz Kotarou), Ryuuchi é obrigado a ser babá dos filhos das professoras na creche estabelecida na escola. Ao todo, são cinco crianças pequenas. A menina Kirin, os gêmeos Takuma e Kazuma, o bebê Midori e o malcriado Taka. Ao contrário do que se poderia esperar, quem é o encarregado da creche é um homem, Usaida Yoshihido – o “chefe” sonolento de Ryuuchi. Além deles, o irmão mais velho de Taka, o sério e circunspecto Kamitani, também aparece muitas vezes (a contragosto) para ajudar.

A naturalidade com que o anime apresenta vários personagens homens encarregados da creche é, sem dúvida, um de seus grandes méritos. Em várias narrativas, quando se trata de um personagem homem (quando não é o pai ou algum parente) tomando a função de cuidar de crianças pequenas, sempre há implícita uma comicidade oriunda de uma inadequação inerente. No contexto ocidental, temos vários exemplos disso. Quem não se lembra de Freddie Prinze Jr. arrancando risadas na plateia de “Friends” por sua atuação como “manny” da filha de Rachel e Ross?

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Paradigmas quebrados em “Gakuen Babysitters”

Em “Gakuen Babysitters” o elemento cômico se faz presente, porém não centrado na pura inadequação da figura masculina no papel de cuidador, mas sim na relação entre ele e as crianças, ou mesmo elas entre si. Além disso, mesmo a maior parte do drama focada em personagens homens, o anime aborda as emoções dos personagens de maneira muito aberta e livre de amarras. Neste sentido, é interessante a oposição que é feita entre as relações dos irmãos Ryuuchi e Kotarou – mais honesta e carinhosa – e a de Kamitami e Taka – hierárquica, rígida, e mais próxima do estereótipo da relação entre irmãos homens. 

Cena de "Gakuen Babysitters"
Cena de “Gakuen Babysitters”. (Imagem: divulgação)

Ou seja, tanto no contexto oriental como ocidental, “Gakuen Babysitters” aborda o drama desses homens de maneira muito original e que poucas vezes é vista, mesmo na nossa era pós-MeToo e primavera feminista. É interessante colocar também que a questão do cuidado dos filhos pequenos, com a falta de creches no Japão, era um problema grave até muito recentemente. O serviço era muito caro ou simplesmente indisponíveis em preços remotamente acessíveis.

Os aspectos técnicos deste anime, o detalhismo da arte e da trilha sonora, também merecem destaque. O estilo como um todo lembra muito “Durarara!!” (também disponível no crunchyroll), que é do mesmo estúdio, o Brain’s Base. Assim como no tom da narrativa – emotivo e comovente, porém sem perder a oportunidade de fazer rir e entreter – “Gakuen Babysitters” é mais um bom representante do estúdio também no estilo de design e animação. Não é um anime para quem procura grandes batalhas ou cenas de ação, mas se você está a fim de emoções genuínas e fofura ao extremo, “Gakuen Babysitters” segue altamente recomendado!


Edição e revisão por Isabelle Simões.

Escrito por:

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Criança que queria ser bailarina, depois foi querer virar oceanógrafa, que depois sonhou em ser fotógrafa da National Geografic, para depois querer ser escritora. Acabou virando jornalista (no diploma) e professora (na carteira de trabalho – RIP). Adulta, só daqui uns anos.
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