Carole e Tuesday – segunda parte: boas doses de realidade e alegorias com o mundo atual

Carole e Tuesday – segunda parte: boas doses de realidade e alegorias com o mundo atual

Com alguns longos meses de espera, foi lançada na segunda metade de dezembro de 2019 a segunda parte da saga da dupla folk/pop de Shinichiro Watanabe, “Carole e Tuesday”, na Netflix. A saga que tinha concluído seu primeiro arco narrativo nos doze primeiros episódios – disponíveis desde outubro na plataforma – segue agora disponível até o episódio 24 da história intergaláctica da dupla de cantoras rumo ao estrelato (no-pun intended).

Cena da segunda parte de "Carole e Tuesday"
Cena da parte de de “Carole e Tuesday”. (Imagem: Netflix / reprodução)

Mas o foco agora é bem diferente para a dupla de protagonistas. O clima de competição da temporada anterior, assim como as performances megalomaníacas, são deixadas de lado – pelo menos, a princípio. Junto com seu agente Gus Goldman (Akio Ôtsuka), as duas se lançam na busca de contratos e produtoras para poderem finalmente gravar seu álbum.

Acordando do sonho…

Assim como o contexto futurista, o tom da história também permanece basicamente o mesmo. Feel-good, com pitadas de sci-fi e drama adolescente, sem nunca ofuscar a verdadeira estrela do anime: a música. Sem dúvida, ela é o vetor de todos os arcos dramáticos, expressando – muitas vezes, recorrendo a estereótipos derivados da própria indústria musical – a maior parte dos conflitos e arquétipos da narrativa. No entanto, nesta segunda metade, tanto as músicas quanto o tom geral da série, mesmo permanecendo coerentes às premissas estabelecidas na primeira metade, ganham um certo peso maior. Um twist, digamos.

Cena da segunda parte do anime da Netflix "Carole e Tuesday"
Cena da parte de de “Carole e Tuesday”. (Imagem: Netflix / reprodução)

O contexto futurista da série, por exemplo, se torna mais claro a medida em que vão sendo apresentados mais elementos sobre o plano de fundo da história de Marte e o contexto político. Ou alguém aí não se lembra que a mãe de Tuesday é ninguém menos do que candidata a presidente? Além disso, vários outros aspectos do background de Carole são introduzidos, o que resulta em alguns dos melhores momentos desta segunda parte. Dentre estes, o destaque vai para uma performance de rap bastante carregada de alegorias e referências sociais. Além de, por si só, já ser uma salada mix de culturas de fazer explodir a cabeça (afinal é um hip hop em inglês num anime japonês, que se passa em Marte!! PUFF), também traz toda a temática da série bem rapidamente de volta pra Terra, estabelecendo relações diretas com o contexto sócio-político atual.

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Não só uma letra bonitinha…

Ou seja, o que Shinichiro Watanabe fez corretamente na primeira metade de  “Carole e Tuesday” ele repete agora na segunda metade, porém de uma maneira diferente. Conseguiu tornar seu drama adolescente futurista em uma história real e relacionável. Na primeira metade, por meio da história de duas meninas que correm atrás de um sonho. Na segunda, fundamentando o contexto interplanetário ao redor com boas doses de realidade e alegorias com o mundo atual. E isso tudo sem perder sua leveza e capacidade entreter o público, seja ele ocidental ou oriental.

Cena da parte de de "Carole e Tuesday". (Imagem: Netflix / reprodução)
Cena da parte de de “Carole e Tuesday”. (Imagem: Netflix / reprodução)

Em suma, não é preciso dizer que  “Carole e Tuesday” se encaminhou na direção correta nos últimos 12 episódios. Sem contar que o visual, um dos pontos altos da primeira metade (e dos trabalhos de Watanabe em geral), continua impecável. Mas para além disso, “Carole e Tuesday” provou, com essa nova parte, que é muito além de estética e personagens carismáticos. Há uma mensagem a ser dita e passada – e sempre com uma excelente performance musical de pano fundo.


Edição realizada por Isabelle Simões.

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Criança que queria ser bailarina, depois foi querer virar oceanógrafa, que depois sonhou em ser fotógrafa da National Geografic, para depois querer ser escritora. Acabou virando jornalista (no diploma) e professora (na carteira de trabalho – RIP). Adulta, só daqui uns anos.
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