The L Word Generation Q: uma série atual que não esquece suas origens

The L Word Generation Q: uma série atual que não esquece suas origens

Em 2009 tivemos o fim da aclamada e problemática The L Word. Durante 10 anos tivemos rumores, esperanças e muito falatório sobre algum tipo de continuidade da série que, talvez não sejam todas pessoas que se lembrem, teve um final não muito agradável e nos deixou com aquele eterno questionamento: “Onde será que fica o botão de desver?”

Enfim, 2019. As sapateens e outras mulheres que amam mulheres, além do público em geral, recebem a tão aguardada noticia: The L Word Generation Q. A princípio, uma continuação, mas sem necessariamente dar continuidade ao roteiro da série original. Aqui, temos a mistura de velhas e novas personagens e sentimos, já no trailer, o calor e bons ventos de Los Angeles.

AVISO: Spoilers a seguir

Episódio 01: “Vamos fazer isso de novo”, mas estamos fazendo diferente!

Primeiro, são apresentadas as personagens novas. No velho e bom estilo de The L Word, a temporada começa com uma cena de sexo entre duas mulheres: Dani (Arienne Mandi) e Sophie (Rosanny Zayas). Logo em seguida, somos apresentadas à Finley (Jacqueline Toboni), e Micah (Leo Sheng). Elas deixam uma sensação de familiaridade, como se já as conhecêssemos de outras eras, outros dramas, outros carnavais.

Logo em seguida, Betty Porter (Jennifer Beals) entra em cena com sua filha Angie (Jordan Hull). A partir daí os corações saudosos começam a ser contemplados: Alice Pieszecki (Leisha Hailey) aparece trazendo para a tela sua família. Porém, como não poderia deixar de ser, o ponto alto das aparições e reaparições fica a cargo de Shane McCutcheon (Katherine Moennig). Ela sai de um avião e leva a comissária de bordo para uma casa vazia e recém comprada para, quem não diria, transarem na pia da cozinha.

O primeiro episódio da temporada cumpre, então, sua função de nos levar de volta ao fantástico mundo de The L Word. Temos diálogos, encontros e reencontros com uma trilha sonora incrível e cenários de tirar o fôlego. Porém, uma coisa é certa, nestes cinquenta minutos iniciais já fica aparente a grande diferença entre a série original e a geração Q: se as temporadas anteriores foram um desfile de pessoas não diversas – que descansem em paz todas as histórias mal escritas –, essa temporada só perde em diversidade para a parada LGBTI+ de São Paulo e, ainda assim, há controvérsias.

The L Word Generation Q, elenco
Elenco de The L Word Generation Q. (Imagem: divulgação)

Não existe um bom drama que não resista a uma festa

Depois de passada a euforia inicial, as tramas e os dramas de The L Word Generation Q começam de a ser apresentados nos episódios posteriores. Todas as tramas e personagens estão conectadas de alguma maneira: sendo funcionárias de Alice – que tem seu próprio programa de TV; ou num campo político oposto ao de Betty – que estava concorrendo à prefeitura da cidade. Além disso, nos são apresentadas funcionárias do novo empreendimento de Shane: um bar LGBTI+. Neste estabelecimento, além das personagens já citadas temos Tess (Jamie Clayton) e Lena (Mercedes Mason).

Numa narrativa lenta, começamos a entender os desdobramentos dos últimos dez anos e, nos diálogos, começamos a ter algumas respostas. Para além disso, as fofocas das personagens antigas que não estão em cena (e das que estão), a série aborda temas importantes para a comunidade LGBTI+ não só em Los Angeles, mas em qualquer outro lugar do mundo: relações afetivo/sexuais de pessoas trans, relacionamentos que envolvam mais de uma pessoa (geralmente chamados de “trisal”), a participação na política, o envolvimento com a religião. Sendo este assunto, pioneiro nas telas pois como Rebecca (Olivia Thirlby), pastora da ICM que se envolve com Finley, afirma: “estou mais no armário por ser cristã do que por ser lésbica”.

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Além disso tudo, precisamos falar sobre um episódio em particular, “LA times” ou o quarto episódio da temporada. Um necessário e delicioso respiro da narrativa, o episódio passa, quase que totalmente, na festa surpresa de 40 anos da Shane. Sim, isso mesmo, em seu próprio bar, com quase todo o elenco além de um sem número de figurantes LGBTI+. Com drogas licitas, muito sexo (afinal, para que esperar chegar em casa?), nos sentimos convidadas para a festa e realmente temos uma experiência do tal tempo de Los Angeles. E claro, como não poderia deixar de ser, o fim da festa nos traz uma reviravolta – com uma música alta maravilhosa – que nos faz acordar com uma ressaca daquelas no dia seguinte.

Cena de The L Word Generation Q. (Imagem: divulgação)

“A única maneira de sobreviver ao sistema é entender como ele funciona” (Betty Porter)

Se a justificativa para os erros das primeiras temporadas de The L Word é que foi uma série de seu tempo, os acertos de The L Word Generation Q ficam por conta de ser uma série de nosso tempo. Conectada com temas atuais e diversos, a série segue a trilha de outras produções que deixam claro a importância da representatividade. Melhor ainda, quanto mais o mundo hetéro/branco reclamar, mais estaremos nós ocupando tempo na tela.

Portanto, misturando amor, amizade, carinho, sexo, drama – e aqui fica o questionamento de qual desses elementos teve mais tempo de tela -, militância, músicas boas, cenários lindos, alguns erros de continuidade e uma narrativa lenta, The L Word Generation Q nos deixa curiosas pelo que vem. Afinal, precisamos concordar, com uma cena final que durou quase cinco minutos, é melhor que essa segunda temporada chegue até nós em breve. Ficou mais difícil conviver com perguntas sem respostas.


Edição/revisão por Mariana Teixeira.

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Uma adolescente emo virou uma hipster meio torta que sem saber muito bem o que fazer, começou jogar palavras ao vento e se tornou escritora e tradutora. Também é ativista dos direitos humanos. Além disso é lésbica, Fé.minista, taurina. E, principalmente, adoradora de gatos e de café.
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