Weyes Blood: soft rock mergulhado em nostalgia

Weyes Blood: soft rock mergulhado em nostalgia

Weyes Blood é o nome artístico de Natalie Mering, cantora e compositora nascida em 11 de junho de 1988 em Santa Mônica, Califórnia. A música sempre teve um papel importante em sua vida, tendo em vista que seu irmão e pais são músicos, portanto Natalie iniciou seu caminho nesse meio aos 15 anos, compondo sob o nome de Wise Blood. A inspiração para o nome veio do romance homônimo de Flannery O’Connor.

A compositora e cantora Natalie Mering (Weyes Blood).
A compositora e cantora Natalie Mering. (Foto: Kathryn Vetter)

Início da carreira de Natalie Mering 

A cantora revela ter cantado seu primeiro verso aos 4 anos, andando de bicicleta pela casa. Sua mãe estava sempre escrevendo canções e cantando para ela quando era criança. Aos 12 anos já tocava piano, arriscava no violão e se interessava em experimentar formas diferentes de tocar. Quando passou a escrever suas próprias transições entre acordes, percebeu que estava realmente fascinada com o universo musical.

Aos 15 anos, Natalie já estava trabalhando em suas músicas solo, mas não conseguiu achar ninguém na cidade para formar uma banda com ela. Quando se juntou ao Jackie-O Motherfucker, permaneceu pouco tempo na banda, porque os outros integrantes queriam tocar grindcore e, segundo ela, deviam ter achado que ela não teria capacidade suficiente e a expulsaram.

Quando saiu da banda e da loja de discos onde trabalhava, percebeu que precisava perder o medo de fazer shows e gravar músicas sozinha. Ao escolher Weyes Blood como moniker, começou a tocar para o público e desistiu da ideia de estar em um grupo.

A cantora Weyes Blood em apresentação.
Natalie Mering em apresentação. (Foto: reprodução)

Trabalhos solos

Perto de completar 23 anos, Mering lançou seu primeiro álbum, “The Outside Room” (2011), que conta com 6 músicas longas e densas. Com sonoridade que remete a Nico, Natalie explora a estética lo-fi e principalmente experimental, numa mistura de soft rock e goth folk, recheando o trabalho com composições tristes e solitárias, como se ela estivesse acabado de sair de um relacionamento, com o coração partido.

A cantora e compositora Natalie Mering performando.
Natalie Mering performando. (Foto: reprodução)

O segundo álbum veio em 2014, “The Innocents“, lançado pela Mexican Summer. Deixando um pouco mais de lado a estética experimental, mas sem excluí-la, o álbum conta com mais instrumentos melódicos, como ukulele, e mantém o piano ambiental. Destaque para a voz ainda mais arrastada de Natalie, inconfundível e bastante encorpada. Arriscamos em dizer que é o álbum mais melancólico de Weyes Blood.

Em 2015, Wees Blood lançou o EP "Cardamon Times", cheio de ambientações e folk romancista.
Natalie Mering. (Foto: Reprodução)

Em 2015, lançou o EP “Cardamon Times“, cheio de ambientações e folk romancista. É como uma transição entre o segundo e o terceiro álbuns de estúdio da cantora, combinando elementos de ambos. As letras continuam caracterizadas pelo peso de um romance melancólico ou às vezes inalcançável.

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Com essa mesma pegada forte de romantismo sofrido, acrescentando discussões mais profundas sobre artificialidade, medos, saudades, “Front Row Seat to Earth chega ao público em 2016, também lançado pela Mexican Summer. O álbum traz uma sonoridade que faz lembrar alguns trabalhos de Lana Del Rey, Angel Olsen e Sharon Van Etten e as inspirações dos anos 60 e 70 de Mering. Algumas composições, complementadas com corais e instrumentos de sopro trazem também um ar cinematográfico ao álbum.

O álbum "Front Row Seat to Earth" (2016) traz uma sonoridade que faz lembrar alguns trabalhos de Lana del Rey, Angel Olsen e Sharon Van Etten e as inspirações dos anos 60 e 70 de Weyes Blood.
Capa do álbum “From Row Seat To Earth”. (Foto: reprodução)

Depois de anos de “maturação musical”, Natalie nos apresenta um trabalho impecável em “Titanic Rising” (2019), a começar pela capa do álbum. Brett Stanley é o responsável pelo mergulho no quarto nostálgico e oitentista de Mering.

O cenário levou 3 dias para ficar pronto e os materiais precisaram ser bastante estudados para que os objetos não flutuassem. Os detalhes são impecáveis e é até difícil acreditar que as fotos foram realmente feitas embaixo d’água, mas Stanley explica tudo no vídeo abaixo (caso prefira, clique aqui para ver algumas cenas menos detalhadas):

Além da obra prima que nos é apresentada a primeira vista, o quarto álbum de estúdio de Weyes Blood, lançado pela Sub Pop, foi considerado um dos melhores discos de 2019. As músicas têm a temática nostálgica que Mering sempre abordou, misturando sons eletrônicos que permitem explorar uma pitada de pop com a suavidade do piano e guitarras melódicas sensíveis.

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"Titanic Rising", de Weyes Blood, foi considerado pela crítica como um dos melhores discos de 2019.
Capa do álbum “Titanic Rising”. (Foto: Brett Stanley)

Weyes Blood explora a nostalgia

O fato de Natalie ter sido uma criança dos anos 80 e início dos 90 parece inspirar muito seu trabalho. A artista se descreve como uma “futurista nostálgica” e consegue juntar essas duas metades opostas (a nostalgia e o futurismo) de modo bastante sensível. Os problemas com tecnologias e a liquidez das relações são temas recorrentes em suas músicas e expressam a nostalgia e a angústia do mundo moderno, que nos certa de informações rápidas e falsas certezas.

Além do foco na saudade de modo geral, relacionamentos amorosos estão quase sempre presentes nas composições de Natalie, como algo complexo e complicado. O eu lírico vivencia experiências românticas difíceis que têm impacto em praticamente todas as áreas de sua vida, como acontece no mundo real e faz com que diversas ouvintes se identifiquem com o sofrimento presente nas canções.

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Natalie Mering nos conecta a um espaço nostálgico e nos faz ter saudade de coisas que nem mesmo vivemos.
Natalie Mering no vídeo da música “Wild Time“.  (Foto: Reprodução)

Natalie nos conecta a um espaço nostálgico e nos faz ter saudade de coisas que nem mesmo vivemos. A ambientação das músicas e a voz arrastada casam perfeitamente com as letras solitárias. Seu trabalho como multi-instrumentista, cantora e compositora inspira outras mulheres a se expressarem e seguirem seu caminho, testando gravações caseiras e outros modos de tocar um instrumento, já que ela mesma relata ter superado suas dificuldades apenas quando criou seu estilo de tocar e compreendeu que conseguiria fazer aquilo sozinha.

Enfrentar problemas de autoconfiança e machismo dentro da indústria cultural fazem parte da trajetória de Mering e de todas as cantoras que nos inspiram e nos fazem acreditar que é possível garantir o espaço feminino na esfera musical.


Edição, revisão e arte em destaque por Isabelle Simões.

Escrito por:

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Psicóloga, mestranda e pesquisadora na área de gênero e representação feminina. Riot grrrl, amante de terror, sci-fi e quadrinhos, baterista e antifascista.
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