10 quadrinhos para se pensar em visibilidade lésbica

10 quadrinhos para se pensar em visibilidade lésbica

O Dia da Visibilidade Lésbica completa 24 anos em 2020. A data existe desde 1996, fruto do primeiro Seminário Nacional de Lésbicas (SENALE) sediado no Rio de Janeiro. Apesar da marcação no calendário, a luta pela visibilidade é diária e árdua, tanto que no próprio mês da visibilidade pouco posicionamento das marcas é visto nas redes sociais, além disso, nas buscas pela palavra “visibilidade” no Google, a lésbica nem aparece na caixa de sugestões.

Pensando em quadrinhos lésbicos, o resultado dos mecanismos de buscas é mais preocupante ainda: pornografia, corpos hiperssexualizados e fetichização de lésbicas. A partir de tantos incômodos, trouxemos uma lista com 10 trabalhos que buscam representar diferentes vivências lésbicas por meio da linguagem dos quadrinhos. Caso você conheça outras artistas e publicações, compartilhe com a gente!

10. A Vida de Ana

Ana é só uma garota comum com problemas comuns, mas isso é o que ela acha”. Essa é bio de A Vida de Ana, perfil de tiras e ilustrações feitas por Angela Domingues e postadas no Instagram sempre em fundo amarelo e linhas pretas. O traço despretensioso forma o equilíbrio perfeito com o conteúdo mais que necessário: a reafirmação das identidades lésbicas que constantemente são pressionadas pela normatividade.

Recentemente, as ilustrações de Angie Domingues viralizaram em memes no Twitter, com os dilemas da sapatão em quarentena: “Queria estar cortando a unha pra ir encontrar com ela” e “É sapatão e calça 35. Enfim, a hipocrisia”. Quer mandar um webflerte para a sua crush? A Vida de Ana tem o conteúdo que você procura!

A vida de Ana, de Angela Domingues

A vida de Ana, de Angela Domingues
Em traços simples, “A Vida de Ana” é necessária para pensar sobre visibilidade lésbica. (Imagem: reprodução)

9. Mulheres Juntas

A ilustradora, designer e quadrinista Sophia Andreazza é a idealizadora do Mulheres Juntas, projeto pensado especialmente para o mês de agosto e que reúne textos, artes e vídeos de mulheres com o objetivo de expressarem suas próprias subjetividades e criações lésbicas.

Sophia, movida por seus questionamentos e de outras lésbicas, ilustra os textos que podem ser encontrados no Instagram e no Medium. Além da iniciativa, o perfil de Sophia na rede social traz vários conteúdos sáficos que merecem atenção.

“Neste mês de agosto, vejo que há muitas perguntas a responder, muitos questionamentos importantes para mim e para outras lésbicas.

Mas, desta vez, mais do que fazer um resgate da história, sinto que é preciso, também, ampliar o espaço para a livre expressão das vozes potentes de mulheres da atualidade.

Nós, que estamos criando e desenvolvendo teorias e subjetividades e artes à margem de sistema que quer nos invisibilizar.”

 
 
 
 
 
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8. A Vida de Nina

A Vida de Nina é a webcomic semanal publicada desde 2017, via Tapas, por Dani Franck. A partir do momento em que começou a se entender como lésbica, a quadrinista anotava em seu celular uma lista de sentimentos e ações que para ela só confirmavam sua sexualidade e, assim, as primeiras tirinhas de A Vida de Nina refletem tais notas.

O trabalho surgido de uma lição de casa do curso de quadrinhos que Dani fazia em 2017, hoje é um livro que pode ser adquirido em sua mais nova loja virtual, e as tirinhas também estão organizadas em uma thread no Twitter. Para mais A Vida de Nina e outros trabalhos da Dani Franck, basta acompanhar o Instagram da artista.

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Nina, Dani Franck

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Acompanhar a evolução de Nina também é ver o desenvolvimento do traço de Dani Franck. (Imagem: reprodução)

7. Anfíbia Sarcástica

Anfibia Sarcástica, de Raposa, são webtiras publicadas entre 2017 e 2018 na rede Tapas de quadrinistas independentes. O conteúdo faz uso do humor e do sarcasmo para gerar reflexão sobre as existências lésbicas fora dos padrões heteronormativos que ainda se impõem sobre os corpos das mulheres. Além das tiras, Anfíbia Sarcástica tem um fanzine e um perfil no Instagram que soma outros trabalhos de Raposa.

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Reflexões diretas fazem parte do trabalho de Raposa em Anfíbia Sarcástica (Imagem: reprodução)

6. Minha experiência lésbica com a solidão

Lançado no Brasil pela editora New Pop e mantendo o formato mangá, Minha experiência lésbica com a solidão é o registro autobiográfico da descoberta da sexualidade da mangaká Kabi Nagata.

Aos 28 anos, Nagata se sente incomodada por nunca ter beijado e muito menos transado com outra pessoa. Então, ela decide contratar uma profissional do sexo para perder a virgindade. Porém, antes de chegarmos a esse ponto da história, acompanhamos os 10 anos de grandes pressões enfrentadas pela artista: ansiedade, depressão, transtornos alimentares, automutilação, busca por aceitação e descoberta profissional.

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A dura jornada de Nagata, contada em tom confessional, é um grande processo de autorreflexão acerca da saúde mental, das questões corporais e da sexualidade perante as pressões sociais.

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Minha experiência lésbica com a solidão: vivência que colocou Kabi Nagata nos mangás. (Imagem: reprodução)

5. O enterro das minhas ex

Anne-Charlotte Gauthier, ou simplesmente Gauthier, é a ilustradora francesa responsável pela graphic novel O enterro das minhas ex, publicada no Brasil pela editora Nemo em 2016. Nessa narrativa acompanhamos os acertos de contas da protagonista Charlotte com as garotas e mulheres que foram essenciais para sua aprendizagem afetiva.

O ponto central da novela gráfica está na descoberta do amor e da sexualidade por Charlotte, além das decepções amorosas enfrentadas por ela durante o processo. Porém, ao se ver como lésbica, a protagonista não tem uma tomada de consciência pacífica e precisa se compreender melhor para desbravar um mundo desconhecido, cheio de intolerância, arrogância e rejeição, mas também libertador.

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visibilidade lésbica - O enterro das minhas ex
A francesa Gauthier traz em “O enterro das minhas ex” um mundo de descobertas na pele da protagonista Charlotte. (Imagem: reprodução)

4. Princess Princess Ever After

Princess Princess Ever After é uma história em quadrinhos longa da neozelandesa vencedora dos prêmios Eisner e Harvey, Katie O’Neill. O conto de fadas sapatão começa com Sadie, uma princesa loira que está presa em uma torre com seu dragão rechonchudo como única companhia, sendo resgatada por Amira, uma princesa negra que fugiu de suas obrigações reais para se tornar uma heroína.

O resgate de Sadie por Amira, que não foi tão bem sucedido no início, desencadeou uma aventura na qual eles enfrentam seus medos, resgatam um príncipe e desenvolvem fortes sentimentos uma pela outra. Misturando doçura e sarcasmo, O’Neill mostra as nuances distintas das protagonistas que precisam unir forças para vencer desafios e descobrir o que significa o “felizes para sempre”.

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Contos de fadas sapatão existem, mas “Princess Princess Ever After” ainda não foi publicada em português. (Imagem: reprodução)

3. Cris com C de Chata

Aline Cristine é o nome por trás de Cris com C de Chata, primeiro livro da artista com tirinhas postadas na página Cristirinhas no Instagram e no Facebook. A publicação, financiada via Catarse em 2019, traz situações da vida cotidiana com toques de mineiridade e bom humor, nas palavras da Cris: “Sabe aquelas coisinhas que cê acha que acontece só com você? Então, tô aqui pra mostrar que não! E são coisas que cê nem percebe!”.

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A convivência com a namorada também está registrada nas páginas coloridas da publicação de forma leve e divertida, assim como o clássico desenho da Cris em um caminhão. E enquanto não chega um novo livro com as aventuras de Cristirinhas, é possível acompanhar a expansão da família com a chegada da gatinha Madalena, já presente nas novas tirinhas da artista, nas redes sociais.

“Ser mulher no Brasil já é muito difícil; e ser uma artista lésbica e levantar essa bandeira, mais ainda! Pretendo somar e ajudar de uma forma, por mínima que seja, essas pessoas que não se sentem acolhidas no próprio país que vivem.”  

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Situações do dia a dia com toque divertido podem ser encontradas em Cris com C de Chata e na página Cristirinhas. (Imagem: reprodução)

2. Melaço

Lançado no Festival Internacional de Quadrinhos de 2018, a coletânea de quadrinhos curtos Melaço tem como proposta entregar narrativas leves e gostosas. O projeto foi financiado via Catarse e traz sete histórias representadas em diferentes traços, técnicas e vivências pelas mãos de Aline Lemos, Bruna Morgan, Dani Franck, Dika Araújo, Jujuqui, Lita Hayata, Manu Negri, mtika e Talita Régis.

Melaço é para você que sente falta de uma história simples, de dia a dia, sobre a ansiedade da espera pela namorada ao final do dia ou o frio na barriga do primeiro encontro com aquela crush. Essa é uma coletânea para sair com o coração quentinho.

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Manu Negri, Talita Régis, Lita Hayata são as mulheres que criaram a história LDR de “Melaço”. (Imagem: reprodução)

1. Dykes to Watch Out For

Alison Bechdel é uma quadrinista e ativista lésbica conhecida pelo Teste de Bechdel. Na série de quadrinhos Dykes to Watch Out For, que conta histórias sobre as vidas, os amores e a militância lésbica de um grupo de mulheres dos Estados Unidos, uma das personagem levantou a ideia básica do Teste, que consiste no questionamento de obras de ficção possuírem pelo menos duas mulheres que conversam entre si sobre algo que não seja um homem.

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Dykes to Watch Out For, ainda sem tradução para o português, reúne em livro seus quadrinhos publicados entre 1987 e 2008 em mais de 50 jornais. Em 20 anos de registros em quadrinhos da comunidade feminista radical lésbica estadunidense, representada pelo círculo de amigas visto nas HQs, Bechdel aponta as modificações desse meio com o aparecimento do queer e a luta pela visibilidade, principalmente da questão butch, visto que a autora desde sua infância não performava feminilidade.

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Trecho de “Dykes to Watch Out For”. (Imagem: reprodução)

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Em 2006, Bechdel lançou a graphic novel Fun Home: uma tragicomédia em família, HQ sobre a relação conturbada com o pai, um professor de literatura e gay não assumido, que cuidava ainda de uma agência funerária situada na casa da família. Alison recebeu o Eisner em 2007 e um musical na Broadway, que venceu 5 Tony Awards, incluindo o de melhor musical.

Em seguida, a artista trata de sua mãe em um acerto de contas com o passado registrado em Você é minha mãe? Um drama em quadrinhos, publicado no Brasil em 2013 pela Companhia das Letras. Bechdel possui trabalhos fundamentais para a vivência e visibilidade lésbica.

Escrito por:

Rafaella Rodinistzky é graduada em Comunicação Social (Jornalismo) pela PUC Minas e atualmente cursa Edição na Faculdade de Letras da UFMG. Participou do "Zine XXX", contribuiu com a "Revista Farpa" e foi assistente de produção da "Faísca - Mercado Gráfico". Você tem um momento para ouvir a palavra dos fanzines?
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