Dolores Mary Eileen O’Riordan Burton nasceu em Limerick, na Irlanda, em 6 de setembro de 1971. Eterna vocalista do Cranberries, Dolores O’Riordan foi também compositora e musicista aclamada. Tanto que, em sua terra natal, é considerada a maior cantora de todos os tempos! Com sua morte, em 15 de janeiro de 2018, a música e o mundo perderam muito mais que uma preciosa artista.
Um talento em meio ao abuso
Dolores O’Riordan chamava a atenção não apenas pela voz inconfundível, mas também por sua energia visceral. A cantora se destacou em seu país, sendo indicada ao título de Patrono Honorário da University Philosophical Society, do Trinity College de Dublin – uma honraria concedida às pessoas que divulgam e preservam a cultura irlandesa.
No entanto, seu talento escondia uma infância de muito sofrimento. Em entrevista à revista Life, em 2013, ela contou sobre os abusos sofridos entre os 8 e 12 anos de idade, cometidos por um adulto que frequentava a casa de sua família. Em meio a culpa e a vergonha, comuns em vítimas de agressões sexuais, aos 18 anos desenvolveu anorexia. Apesar de tanto sofrimento, Dolores usou sua dor para compor uma música sobre a história de uma criança abusada sexualmente. Lançada em 1999, “Fee fi fo” é uma referência ao som que antecede o vilão do conto João e o Pé de Feijão.
Ela também revelou que em 2013 tentou cometer suicídio. Dolores disse ter encontrado forças para continuar em seus três filhos, Taylor Baxter, Molly Leigh e Dakota Rain, frutos de um casamento de 20 anos com Don Burton, ex-empresário do Duran Duran. Já em 2015, a cantora tornou-se foco dos holofotes novamente, quando seu diagnóstico de transtorno bipolar veio à público após incidentes de agressões a uma aeromoça e um policial.
The Cranberries
Dolores também era a mais nova de sete irmãos e cresceu em uma família profundamente católica. Em entrevista ao The Guardian, ela conta que não se sentia uma adolescente atraente e que sua mãe não permitia que usasse maquiagem. Na mesma entrevista ela revelou que, como era a sua mãe quem pagava por suas roupas, foi apenas na primeira sessão de fotos para o Cranberries que pôde enfim encontrar sua própria identidade, de rockeira ou garota “indie”.
Formada em 1989 pelo guitarrista Noel Hogan, o baixista Mike Hogan e o baterista Fergal Lawler, a banda de rock irlandesa teve Dolores O’Riordan como líder por quase três décadas. Considerada uma das maiores bandas dos anos 90, os seis álbuns venderam, juntos, mais de 40 milhões de cópias!
Logo em 1993, The Cranberries alcançou um sucesso estrondoso, com os hits Linger e Dreams, do primeiro álbum “Everybody else is doing it, so why can’t we?”. Com este álbum, ao lado dos incríveis “No need to argue”, “To the faithful departed” e “Bury the hatchet”, a banda alcançou quatro top 20 na Billboard 200.
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Entre as músicas de maior sucesso estão Zombie, composta como uma forma de protesto sobre os conflitos na Irlanda do Norte. A canção foi inspirada na morte de duas crianças, em 1993, causada por um ataque terrorista do Exército Republicano Irlandês (IRA). Outros singles como Ode to my family, o segundo de “No need to argue“, sobre a nostalgia da infância e da vida antes da fama, e Just my imagination, que nunca faltava em seus shows, também são hinos inesquecíveis para quem cresceu ouvindo a voz implacável de Dolores O’Riordan.
Depois de um hiato entre os anos 2003 e 2009, a banda voltou a se reunir e em 2012 lançou “Roses”, o último álbum de inéditas. Já em fevereiro de 2017 foi lançado “Something else”, uma coletânea de versões acústicas dos clássicos da banda, com apenas três canções inéditas. Neste mesmo ano, a turnê anunciada para a Europa e Estudos Unidos foi cancelada devido a problemas de saúde de Dolores. Em 2019, a banda lançou “In the end“, um álbum de despedida com canções inéditas, gravadas ainda em 2017.
Carreira solo
Seu primeiro álbum solo, “Are you listening?“, foi lançado em 2007 pela Sanctuary Records e atingiu mais de 650 mil cópias. O feito rendeu o prêmio European Breaking Borders Awards, concedido pela União Europeia aos artistas que alcançam um bom desempenho, fora da Europa, em seu primeiro trabalho. Naquele mesmo ano, Dolores iniciou sua turnê.
Em 2009 ela lançaria o segundo álbum, “No baggage”, que foi precedido por uma intensa renovação da marca Dolores O’Riordan. Na época, a cantora contratou uma assessoria de comunicação e empresários para recolocá-la no mercado e em maior contato com seu público. Ainda no ano anterior, começaram a surgir pistas sobre sua nova produção na rede social MySpace. Mais tarde foi inaugurado seu site oficial – uma verdadeira ode à obra e vida pessoal de Dolores.
Morte inesperada
Dolores nos deixou, com apenas 46 anos, após uma intoxicação por bebida alcoólica que resultou em seu afogamento, na banheira de um quarto de hotel em Londres, onde estava para uma sessão de gravações. Devido ao diagnóstico de transtorno bipolar, no início especulou-se sobre a hipótese de suicídio, o que foi descartado pelo próprio médico da cantora mais tarde.
Na ocasião de sua morte, inúmeros artistas, incluindo Hozier e a banda Kodaline, e autoridades do país, como o presidente Michael D. Higgins e o primeiro ministro Leo Varadkar, homenagearam a cantora. A despedida foi realizada em duas ocasiões, reunindo milhares de fãs, em 21 de janeiro, e os amigos mais próximos em uma cerimônia privada, no dia 23, cujo o fim foi embalado pelo som de When you’re gone.
Edição, revisão e arte em destaque por Isabelle Simões.
