Muna: sexualidade e gênero no pop

Muna: sexualidade e gênero no pop

Muna é um grupo pop com elementos de synthpop e referências oitentistas que surgiu em 2013, quando as integrantes se conheceram na University of Southern California e perceberam que dividiam o mesmo gosto musical. Formada por Katie Gavin, Josette Maskin, e Naomi McPherson, que se identificam como queers, a banda sempre traz questões que dizem respeito a sexualidade e gênero em suas músicas. Ficaram mais conhecidas quando entraram em turnê com Harry Styles como banda de abertura, fato que literalmente abriu portas para as três. 

Naomi, Katie e Josette, o trio Muna.
Naomi, Katie e Josette, o trio Muna. (Foto: reprodução)

“About U”, álbum de estreia

O primeiro álbum, “About U”, foi lançado em fevereiro de 2017 pela RCA Records e está repleto de músicas dançantes, com letras que abordam romances, corações partidos e decepções amorosas. O pop levemente melancólico traz referências sonoras como Lorde e Tears For Fears e faz com que a banda seja enquadrada também como dark pop. 

A canção So Special abre o álbum e como a própria banda descreve, é um hino para as garotas que são humilhadas devido a vida sexual que levam, onde devem afirmar seu próprio valor (“an anthem for the slut-shamed girls of the world who have to assert their own value“).

Leia também >> [DELIRIUM CAST] Artistas que desafiam estereótipos de gênero no meio musical

As músicas são usadas como armas de protesto e exposição de questões de violência e machismo, como é o que acontece com Loudspeaker, que aborda uma episódio de abuso sexual vivido por Gavin. A música surgiu anos depois do acontecimento, quando Gavin elaborou o impacto psicológico que a violência causou em sua vida. Uma das frases mais importantes da banda está nessa composição: “Everytime i don’t shup up, it’s revolution” (“Toda vez que não me calo, é revolucionário”, tradução livre).

O maduro “Saves The World” do trio Muna

Também pela RCA Records, o trio lançou o segundo álbum de estúdio em setembro de 2019. Bem recebido pela crítica, “Saves The World” chegou depois de uma pequena pausa dada pela banda quando finalizaram a turnê com Harry Styles. Quanto ao motivo da escolha do título do álbum, disseram que “salvar a si mesmo é salvar o mundo“.

Depois de alguns anos do lançamento de “About U“, fazendo shows e dando entrevistas, é natural que o processo das outras composições seja mais maduro e introspectivo, principalmente pela mudança de vida que as artistas experienciaram.

Seguindo um caminho já bastante trilhado por outras mulheres, as letras do segundo álbum de Muna falam bastante sobre amadurecimento e crescimento pessoal e buscam abordar questões feministas e de gênero de um modo que mostre que o pessoal é político.

Leia também >> Fiona Apple, uma máquina extraordinária
O trio Muna na sessão de fotos para a capa do segundo álbum.
O trio Muna na sessão de fotos para a capa do segundo álbum. (Foto: reprodução)

A primeira faixa, Grow, já deixa bem clara a ideia e a vontade de amadurecer do trio e pesa nostalgicamente junto com a voz aveludada e o piano melódico. Outra faixa nostálgica é Stayaway, que aborda comportamentos e hábitos antigos e saudosistas.

As decepções amorosas continuam presentes nesse segundo disco, com um teor confessional e melancólico que mostram como é dolorido seguir em frente, como acontece em Never. Alguns comportamentos autodestrutivos repetidos como um padrão de relacionamento também são abordados.

Postura Queer

Ser uma banda queer não significa apenas carregar esse título para atrair ouvintes, mas principalmente falar sobre gênero e questões queer abertamente, tanto nas músicas quanto em entrevistas e redes sociais. A discussão sobre ser uma banda “fora do armário” aconteceu já no momento de formação. Gavin acreditava que fazia sentido para o som que estavam fazendo, já que abordam questões sobre relacionamentos e formas de poder, e assim acabou convencendo Naomi e Josette.

A banda queer Muna.
A banda queer Muna. (Foto: reprodução)

Em 2020, se revelar enquanto banda queer não significa que sua carreira está ameaçada como era antigamente, mas em nossa sociedade machista e patriarcal ainda pode ser uma questão tensa, independente do quão confortável você esteja diante de sua sexualidade. O trio revela ser bastante complicado se assumir e ser real com você mesmo ao mesmo tempo em que a sociedade te coloca como subalterno.

Leia também >> Stevie Nicks: revolução, memória e potência feminina

A banda é reconhecida por trazer espaços seguros (inclusive a canção I Know a Place é sobre isso) para os fãs LGBTQ+ e demandar banheiros de gênero neutro para o público em seus shows. Revelam que é importante fazer com que as pessoas se sintam menos sozinhas e confortáveis, tanto fisicamente quanto psicologicamente nos shows. O trio também faz dezenas de críticas à Donald Trump e seus seguidores, algo que não entra nas composições dos álbuns necessariamente mas está quase sempre presente nos shows e entrevistas da banda.

O trio Muna acredita que se assumir enquanto banda queer faz com que elas sejam verdadeiras com o que querem cantar e com a mensagem que buscam transmitir, além de inspirar outras pessoas a assumirem sua sexualidade e deixá-las mais confortáveis com isso também.


Edição e revisão por Isabelle Simões.

Escrito por:

39 Textos

Psicóloga, mestranda e pesquisadora na área de gênero e representação feminina. Riot grrrl, amante de terror, sci-fi e quadrinhos, baterista e antifascista.
Veja todos os textos
Follow Me :